Isquemia Mesentérica Crónica – Um desafio diagnóstico
2013; Sociedade Galega de Medicina Interna; Volume: 74; Issue: 4 Linguagem: Português
10.22546/25/476
ISSN1989-3922
AutoresRute Morais Ferreira, Alexandra Canedo,
Tópico(s)Abdominal Surgery and Complications
ResumoIsquemia Mesentérica Crónica -Um desafio diagnóstico Chronic Mesenteric Ischaemia -A diagnostic challengeHomem de 69 anos de idade, hipertenso e fumador (100 Unidades Maço Ano), internado para estudo de quadro com 6 meses de evolução de dor abdominal pósprandial, sem outros factores de agravamento ou de alívio, associada a anorexia, "medo de comer", náuseas, enfartamento e diarreia fétida, sem muco ou sangue e acompanhada de deterioração do estado geral (perda ponderal 16% em 2 meses).Apesar de multiconsultado e de vários exames complementares, que incluíram estudo endoscópico alto e baixo e Tomografia Axial Computorizada abdomino-pélvica, permanecia sem diagnóstico.Pela suspeita de isquemia mesentérica crónica (IMC), realizou Angio-Tomografia-Computorizada (Figura 1 e 2), e posteriormente Angiografia, que demonstraram uma variante anatómica da artéria mesentérica superior proveniente do tronco celíaco, estenose osteal do tronco celíaco-mesentérico com compromisso hemodinâmico significativo e oclusão da artéria mesentérica inferior e respectiva circulação colateral exuberante.A IMC é considerada uma entidade rara, constituindo menos de 5% da doença isquémica intestinal, sendo a doença aterosclerótica a causa mais comum 1 .A maioria dos doentes apresenta-se com sintomatologia abdominal arrastada, com agravamento progressivo, sendo submetidos a um estudo extensivo sem diagnóstico definitivo 1 .Este baseia-se numa história clínica detalhada apoiada com os meios auxiliares de diagnóstico que permitem o estudo das artérias gastrointestinais 1 .A angiografia continua a ser o exame gold standard de avaliação das artérias gastrointestinais.As principais desvantagens são o facto de ser um método invasivo e não permitir a visualização dos tecidos adjacentes.Outros métodos não invasivos permitem, com excelente sensibilidade e especificidade, a avaliação de estenose das artérias gastrointestinais e circulação colateral, dos quais se destacam a AngioTC e a AngioRM, que ainda permitem a visualização dos tecidos circundantes 1 .Não existem estudos que comparem estes dois métodos entre si, mas análises mostram que a AngioRM sobrevaloriza 15% das estenoses (quando comparada com a angiografia), e parece haver vantagem na AngioTAC pela alta resolução e a rapidez de aquisição de imagens 1,2 .O objectivo terapêutico principal é a revascularização da(s) artéria(s), o que pode ser conseguido por cirurgia de revascularização ou por angioplastia endovascular percutânea, com ou sem implantação de stent.Há quem defenda o tratamento cirúrgico como primeira linha para pacientes jovens e sem comorbilidades significativas, dado o maior risco de recorrência de sintomas no tratamento endovascular por re-estenose (28% vs 7-14%).A verdade é que a taxa de sucesso a longo prazo e as complicações são semelhantes e a opção terapêutica deve ser discutida caso a caso mediante o perfil clínico do doente em causa 1 .No caso do nosso doente, atendendo ao seu perfil de risco cardiovascular e à história clínica detalhada, levantou-se a suspeita clínica que foi confirmada com os exames complementares adequados.Na ausência de comorbilidades significativas e dado a extensão das lesões optou-se por um tratamento cirúrgico, com realização de bypass aorto-mesentérico com colocação de prótese (Figura 3
Referência(s)