Artigo Acesso aberto

Estudos bionômicos em colônias mistas de Meliponinae (Hymenoptera, Apoidae)

1977; Volume: 2; Issue: 2 Linguagem: Português

10.11606/issn.2526-3358.bolzoo.1977.121685

ISSN

2526-3358

Autores

Dora Lemasson Naves da Silva,

Tópico(s)

Insect and Pesticide Research

Resumo

As observações efetuadas em colônias mistas com onze espécies de Meliponinae, com ênfase especial nos processos de construção e postura de células de cria, determinação de castas e produção de machos indicam que:a — Odores diferentes dos da própria colmeia constituem a principal causa da rejeição de abelhas e favos de cria de espécies diferentes. Esses odores podem ser dissimulados pelo contacto, anterior à introdução, com abelhas e favos da espécie receptora ou podem ser mascarados pelos odores das colônias, ou mesmo absorvidos por eles, pela insistência na introdução de favos de cria; podem ser, ainda, evitados pela formação de colônias com rainhas fisogástricas e operárias recém-emergidas.b — Operárias S. postica produzem, quando no estágio pupal (olho branco à escuro), uma substância cujo odor, muito diferente ou mais forte que os da própria colmeia mista, não é tolerado por operárias S. tubiba.c — A presença de favos e células de cria em construção, interações rainha- -operárias sobre o favo de cria e durante as pré-fixações, onde elas se estimulam reciprocamente, são muito importantes para o início e continuidade da construção de células.d — Os estímulos internos para a pré-fixação e fixação, apetite da rainha e pressão nos ovários, propostos por Sakagami e Zucchi (1966) são mais importantes que os externos (presença de célula pronta e concentração de operárias ao redor dessa célula), pois esses sub-processos podem ocorrer mesmo antes da células ficarem prontas.e — Uma rainha não bota sem ter antes fixado (do modo característico da espécie) a célula (ou grupo de células) a ser aprovisionada; a seqüência do processo, como observado em colônias normais, não é alterada.f — O estímulo químico (durante a fixação a rainha regorgita uma gota que fica entre suas mandíbulas), mais que os mecânicos ocorridos durante as interações rainha-operárias, é o responsável pela deposição da primeira gota de alimento na célula a ser aprovisionada.g — Em colônias mistas com abelhas do gênero Melipona as rainhas só botam durante os primeiros processos, depois são impedidas por operárias que botam durante o aprovisionamento, iniciando, em seguida, a operculação da célula. O mesmo não ocorre com abelhas da tribo Trigonini.h — O comportamento das operárias ao redor da célula aprovisionada pode impedir a aproximação da rainha; neste caso a adaptação da rainha à nova situação depende da sua agilidade e, também, da diferença de tamanho entre as abelhas das duas espécies.¡ — As rainhas do grupo Meliponinae, dentro dos limites, possuem grande capacidade de adaptação a novas condições.j — Após adaptar-se às condições da colonia mista e estar suficientemente estimulada para botar, uma rainha N. testaceicornis bota mesmo em células que já contenham ovos. Deve ocorrer que a rainha, com óvulos prontos em seus ovaríolos, tendo iniciado a postura não possa parar antes que um certo número deles seja botado (em colonia de sua própria espécie ela tem à sua disposição, em média 26,6 células prontas e na colônia mista com operárias S. postiçao número médio era 2,3).k — O estímulo químico, provindo do ovo da rainha, libera na operária o comportamento de circulação sobre a célula (Sakagami e Zucchi, 1966); a forma do ovo não influi nesse comportamento, mas a sua posição sobre o alimento larval é importante, pois dela depende uma maior área para a liberação do estímulo.1 — Um ovaríolo de uma operária M. quadrifasciata tem condições para produzir dois ou mais- óvulos.m — Os padrões comportamentais dos processos de construção e postura de células de cria não. são alterados, apesar das adaptações ocorridas com o passar do tempo — rainhas e operárias não mudam a “forma” do comportamento.n — A quantidade de secreção glandular, contida no alimento larval, pode ser responsável, direta ou indiretamente, pela determinação de castas na tribo Trigonini.o — Em grupos filogeneticamente próximos, a qualidade do alimento larval não é própria da espécie ou, pelo menos, age como se não o fosse; a qualidade do alimento que não caracteriza espéciés próximas pode caracterizar grupos maiores.p — Nossos dados reforçam a hipótese genética-ambiental para a determinação das castas no gênero Melipona.q — As operárias poedeiras da tribo Trigonini podem botar, indistintamente, em células reais ou de operárias.r — A posição da rainha para a postura em células com diâmetro maior que o de células de sua própria espécie pode interferir no funcionamento, muscular provavelmente, do seu aparelho genital, levando-a a botar óvulos que dão origem a machos. Rainhas P. (F.) schrotíkyi e P. (P.) droryana botaram em células construídas por operárias N. testaceicornis e dessas células emergiram cerca de 50% de machos filhos das rainhas.s — A presença de mais de um ovo em uma mesma célula é devida a posturas de operárias e não à super-produtividade de uma rainha Melipona.t —- De células de cria, do gênero Melipona, com dois ou mais ovos emergem machos filhos de operárias.ti — Em uma colônia da espécie Aí. quadrifasciata, onde a rainha é fisiológicamente jovem, os machos são produzidos pelas operárias.v —- A postura de óvulos por rainha Aí. quadrifasciata não é devida à falta ou pequena quantidade de espermatozóides na sua espermateca.w — As alterações fisiológicas sofridas por uma rainha Aí. quadrifasciata no seu último período de vida devem ser responsáveis pela postura de óvulos que originam machos. Essas alterações influenciam, direta ou indiretamente, o desenvolvimento ovariano das operárias, pois em presença de rainhas que apresentam características que indicam envelhecimento não há produção de machos pelas operárias.x — O pedido de alimento da rainha às operárias pode ser um dos tipos de mecanismo “dominância-subordinação”, onde a rainha procura manter contato com as operárias para maior possibilidade de dominância sobre elas.y — Admitimos para as abelhas do grupo Meliponinae por nós estudadas a existência de um tipo de “substância de rainha” que controla o desenvolvimento ovariano das operárias.z — A “substância de rainha” das espécies dó grupo Meliponinae-deve apresentar uma estrutura básica comum, à qual, para a tribo Meliponini, foi adicionado, para cada espécie, um fator diferente que torna o sinal específico

Referência(s)
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