Artigo Revisado por pares

Fronteamento de constituintes e padrões de ordenação do sujeito em carts particulares brasileiras dos séculos XIX e XX

2017; Volume: 16; Linguagem: Português

ISSN

2236-0883

Autores

Rafael Aguiar Moura, Marco Antônio Martins,

Tópico(s)

Linguistic Studies and Language Acquisition

Resumo

Considerando o modelo de competicao de gramaticas (KROCH, 1989; 2001), segundo o qual a variacao e a mudanca nos dominios sintaticos constituem um processo gradual que se desenvolve via competicao entre diferentes gramaticas, descrevemos e analisamos, em consonancia com pressupostos da teoria gerativa, as construcoes com fronteamento de constituintes e com diferentes padroes de ordenacao do sujeito em oracoes principais finitas nao dependentes na diacronia do portugues brasileiro. O corpus se constitui de cartas pessoais brasileiras dos seculos 19 e 20 de diferentes regioes e se dividem em tres periodos de tempo, correspondentes a segunda metade do seculo 19 (com cartas, exclusivamente, do Rio de Janeiro), a primeira metade (com cartas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte) e a segunda metade (apenas com cartas do Rio Grande do Norte) do seculo 20. As cartas cariocas sao oriundas do Laboratorio de Historia do Portugues Brasileiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As potiguares, por sua vez, integram o corpus minimo comum manuscrito do Projeto da Historia do Portugues Brasileiro no Rio Grande do Norte (PHPB-RN). Observamos a natureza dos constituintes pre-verbais e o posicionamento do sujeito (anteposto ou posposto ao verbo). Os resultados mostraram que o seculo 19, em 49% dos dados, apresenta um constituinte pre-verbal (contiguo ou nao ao verbo) que nao e representado por um sujeito. Esse constituinte pre-verbal pode ser representado por um termo circunstancial locativo ou temporal que e condicionado por oracoes sem sujeito e oracoes com sujeito posposto ao verbo. Sendo assim, acreditamos que esse seculo mostra um indicio da existencia de diferentes padroes de ordenacao, isto e, um padrao XV (constituinte pre-verbal nao realizado por um sujeito) e um padrao SV (constituinte pre-verbal realizado por um sujeito), que comeca a aumentar a partir do seculo 18, conforme mostraram os estudos de Coelho e Martins (2012). Seguindo a proposta de Paixao de Sousa (2004), interpretamos que tais padroes encontrados em cartas brasileiras dos seculos 19 constituem, respectivamente, um sistema V2 (instanciado pela gramatica do Portugues Classico) e um sistema SV (instanciado pela gramatica do Portugues Brasileiro e do Portugues Europeu). No seculo 20, diferentemente, ha um aumento dos padroes associados ao sistema SV. Portanto, defendemos que os textos do seculo 19 refletem um processo de competicao entre diferentes gramaticais – PC, PB e PE – e os textos do seculo 20 refletem um quadro mais estabilizado com um padrao do sistema SV.

Referência(s)