Gênero e religião: o exercício do poder feminino na tradição étnico-religiosa ioruba no Brasil
2010; Volume: 9; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
1984-9044
Autores Tópico(s)Race, Identity, and Education in Brazil
ResumoO trabalho discute o cotidiano do exercicio do poder feminino no interior das relacoes de genero entre afrodescendentes de classes populares no Brasil, a partir das relacoes vivenciadas na religiosidade de matriz africana ioruba, buscando os impactos dessa adesao religiosa na construcao da subjetividade das mulheres e nas suas relacoes sociais na sociedade. Em relacao ao exercicio do poder feminino no interior das relacoes de genero na sociedade brasileira, diferentes contextos socio-culturais fornecem elementos para a formacao de identidades culturais de diferentes grupos, constituindo particularidades nacionais. Um desses elementos e a tradicao etnica e religiosa ioruba, propria da sociedade africana pre-capitalista, recriada no Brasil no territorio da chamada comunidade de terreiro de candomble, o egbe. O egbe expressa uma ocupacao sociopolitica, uma vez que e um espaco religioso, mas tambem espaco de reproducao social, etnicocultural, politica, afetiva, de acolhimento e, as vezes tambem, de prestacao de servicos de “orientacao social”. A partir de dados coletados em pesquisas realizadas no Rio de Janeiro com adeptos dessa tradicao religiosa constatou-se que o egbe se pretende constituir como territorio de complexas e contraditorias relacoes de classe, genero e etnia, e tambem como espaco tendencialmente plural e inclusivo, de respeito a diversidade, de resistencia e de construcao de uma sociabilidade voltada para valores emancipatorios e sociocentricos. Na particularidade desse contexto, segmentos oriundos das classes populares expressavam forte sentimento de pertencimento e buscavam experimentar a possibilidade de ocupar posicoes de relativo prestigio social, metamorfoseando lugares de desvantagem social vivenciados na sociedade, do ponto de vista de classe, etnia, genero, orientacao sexual, condicao fisica ou mental, em posicoes elevadas ligadas a hierarquia religiosa. Observou-se que ai, especificamente as mulheres, majoritariamente negras, ocupavam os mais altos cargos, ja que se trata de uma organizacao de matriz africana matrilinear. Encontraram-se, tambem, alusoes ao discurso mitico para explicar condutas vivenciadas no seu cotidiano, que podem estar vinculadas a estrategias de busca de escape das relacoes de dominacao-exploracao de classe, genero e etnia, bem como relacionadas a transgressao da organizacao social de genero dominante, onde predomina a heterossexualidade como norma, bem como a comportamentos relacionados a combatividade, fundamentais para a construcao de uma sociabilidade libertaria. Paralelamente, foram tambem encontrados discursos e praticas reafirmadores de uma sociabilidade fundada na moral conservadora e liberal-burguesa, bem como na ideologia neoliberal, consubstanciais ao modo de producao capitalista. E nessa direcao que se coloca a importância desse tema: desvelar como o genero, em especial o feminino, se expressa nesse espaco e como as mulheres negras e pobres gestam taticas para o exercicio do poder, para o enfrentamento das opressoes e das violencias, bem como para a luta pela concretizacao de direitos.
Referência(s)