Artigo Produção Nacional Revisado por pares

CRUSTÁCEOS MALACOSTRACA DO MEMBRO TAQUARAL, FORMAÇÃO IRATI (CISURALIANO), NO MUNICÍPIO DE RIO CLARO, SP, BRASIL

2016; Linguagem: Português

ISSN

1519-8634

Autores

Paula G. Pazinato, Rosemarie Rohn,

Tópico(s)

Fish Biology and Ecology Studies

Resumo

A Formacao Irati, Cisuraliano da Bacia do Parana, apresenta o maior registro de malacostraceos fosseis do Gondwana, com nove especies da subclasse Eumalacostraca descritas, um Syncarida (Membro Taquaral) e oito Pygocephalomorpha (Membro Assistencia). No municipio de Rio Claro, SP, um afloramento de corte de estrada proximo ao Rio Passa Cinco e, ha quase meio seculo, conhecido ponto de coleta de fosseis do Membro Taquaral, dentre eles o relativamente abundante crustaceo sincarideo endemico Clarkecaris brasilicus (Clarke, 1920). Na ultima decada, foram coletados neste afloramento restos de um outro crustaceo, atribuido inicialmente a Decapoda. Amostras mais completas, depositadas no Museu de Paleontologia do Instituto de Geociencias da UNESP Rio Claro, permitiram identificar este crustaceo como um Hoplocarida, ordem Stomatopoda, aqui referido como morfotipo 1. Como malacostraceos, ambos os crustaceos possuem 19 segmentos corporais, sendo 5 cefalicos, 8 toracicos, 6 pleonais, e uma porcao posterior, o telson. As principais diferencas morfologicas entre eles incluem uma pequena variacao no tamanho, C. brasilicus possui cerca de 30 mm e o morfotipo 1, 45 mm. Alem disso, no primeiro nao ha carapaca, o primeiro segmento toracico e fusionado ao cefalo, os segmentos toracicos sao metade do tamanho dos segmentos pleonais, os uropodos birremes sao estreitos, alongados e lineares, e o telson e triangular com duas furcas terminais. Clarkecaris e erroneamente classificado como um Palaeoaridacea na literatura internacional, quando se trata, na verdade, de um Anaspidacea, ordem de crustaceos restritos ao Gondwana com representantes atuais em ambientes limnicos na Oceania, cujos fosseis mais antigos eram do Triassico da Australia. Esta mudanca na classificacao e significativa na historia evolutiva do grupo, mostrando que os Anaspidacea ja estavam presentes no Gondwana a partir do Eopermiano. O morfotipo 1 apresenta carapaca recobrindo o cefalo, segmentos toracicos e pleonais sao de tamanho semelhantes, os uropodos birremes sao espessos, alongados e curvilineos, o telson e oval com um espinho mediano na extremidade distal. Os toracopodos 2 a 5 sao quelados, sendo o segundo maior que os demais. Esta caracteristica e diagnostica dos Stomatopoda, ordem de crustaceos marinhos predadores, cujo registro no Paleozoico estava restrito ao hemisferio norte, em ambientes marinhos e estuarinos do Devoniano Superior ate o Pensilvaniano. Portanto, este e o primeiro registro fossil para o Permiano e para o hemisferio sul. Tanto a idade quanto o paleoambiente do Membro Taquaral sao discutiveis. Os mesossauros do sobreposto Membro Assistencia indicariam Artinskiano, a palinologia, Kunguriano. O paleoambiente trata-se, provavelmente, de um mar raso, com pouca (ou nenhuma) conexao oceânica e fundo redutor (pela quantidade abundante de pirita nos folhelhos e siltitos). Por outro lado, a morfologia e a historia evolutiva, destes crustaceos indicam que ambos eram bentonicos e, portanto, de fundos oxidantes, o que sugere fortemente a ocorrencia de transporte das carcacas do seu habitat costeiro, ou proximal, para sitios deposicionais mais distais do Membro Taquaral. Embora mais evidencias sejam necessarias, os toracopodos do morfotipo 1 indicam que se tratavam de carnivoros raptoriais, podendo ter predado inclusive Clarkecaris.

Referência(s)