Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Katabasis e autossalvação na recriação do orfismo no Banquete de Platão

2017; Coimbra University Press; Issue: 62 Linguagem: Português

10.14195/2183-7260_62_2

ISSN

2183-7260

Autores

Luciano Coutinho,

Tópico(s)

Classical Philosophy and Thought

Resumo

A temática de salvação da alma no Hades é bastante recorrente na tradição órfica. Platão recria esta imagem órfica, no Banquete, com o intuito de alterar a ideia órfica de salvação/resgate de uma alma (que é dada por uma divindade, nomeadamente Orfeu) em uma imagem que reforça sua teoria da responsabilidade psíquica, com a ideia de que cada psyche só pode salvar-se a si própria. Para tanto, a famosa descida de Orfeu para resgatar sua amada Eurídice da morte no Hades é alterada por Platão por uma imagem de completo fracasso: os deuses do Hades oferecem a Orfeu apenas o fantasma de Eurídice e não sua psyche, como quem paga ilusão com decepção. Ao tentar enganar as instâncias divinas com meros encantamentos superficiais, Orfeu recebe dos deuses o maior dos enganos: uma imagem fantasmagórica de sua amada. Tentaremos, neste trabalho, demonstrar como essa recriação platônica da katabasis e da salvação órficas sustenta a ideia de que nenhum ente teria o poder de salvar um outro ente da obscuridade, pois cada psyche só é capaz de salvar-se a si própria.

Referência(s)