ABORDAGEM CONSERVACIONISTA NA CRIAÇÃO ARTIFICIAL DE PEQUENOS FELÍDEOS NEOTROPICAIS

2017; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ; Volume: 4; Linguagem: Português

10.4025/revcivet.v4i0.39825

ISSN

2358-4610

Autores

Anderson Carvalho, Stacy Wu, Ronaldo José Piccoli, Elizete Gabriel Da Silva,

Tópico(s)

Genetic Syndromes and Imprinting

Resumo

Com o final do outono e inicio da primavera, inicia-se o periodo de recebimento de filhotes orfaos de pequenos felideos em instituicoes que prestam atendimento a animais silvestres. Estes filhotes sao normalmente resgatados em decorrencia de obito da progenitora e tambem de suposto abandono, para o qual citam-se como possiveis causadores a ocorrencia de defeitos congenitos, o desenvolvimento retardado do filhote, o afugentamento da progenitora por caes ou a localizacao e remocao do filhote para tentativa de criacao como animal de estimacao. Na criacao artificial de filhotes de animais silvestres, deve-se considerar conceitos de etologia que permitam moldar o comportamento de acordo com o objetivo futuro para estes individuos, seja este o uso em atividades de educacao ambiental, a destinacao para instituicoes com ou sem fins de reproducao, ou a reintroducao dos animais em vida livre. O principal conceito etologico a ser considerado neste processo e o chamado imprinting , descrito por Konrad Lorenz em 1935 como o comportamento de aprendizado de filhotes a partir de estimulos visuais e auditivos que influencia as atitudes destes individuos quando adultos, principalmente nas especies que sao altamente dependentes dos pais. Em condicoes naturais, um filhote de felideo faria o processo de imprinting com sua propria mae, e aprenderia com esta varios dos comportamentos necessarios para sua sobrevivencia na natureza, dentre eles as habilidades de caca e defesa. Diferentemente desta condicao, na criacao artificial, onde humanos fazem o processo de alimentacao e acompanhamento, pode-se desenvolver o imprinting entre o humano e o filhote, caso exista um tempo de interacao muito prolongado entre estes. Nesta condicao, o vinculo criado podera inicialmente facilitar o processo de criacao, mas no medio e longo prazo podera dificultar o contato deste animal com individuos da mesma especie no cativeiro ou mesmo impedir a sua soltura na natureza. Este relato aborda a criacao artificial de um gato-maracaja ( Leopardus wiedii – Lw1) e dois gatos-do-mato-pequeno ( Leopardus guttulus, Lg1 e Lg2), recebidos para criacao artificial no Hospital Veterinario da Universidade Federal do Parana, em Palotina/PR. A idade estimada e peso ao recebimento foi de 7 semanas para Lw1 (Peso: 0,710 Kg), 4 semanas para Lg1 (Peso: 0,424 Kg) e 9 semanas para Lg2 (Peso: 0,846 Kg). Para a alimentacao do Lw1, optou-se por codorna ( Coturnix japonica ), tilapia-do-nilo ( Sarotherodon niloticus ), jundia ( Rhamdia quelen ), camarao-da-amazonia ( Macrobrachium amazonicum ), carne bovina e alimentacao umida para filhotes de gatos (Whiskas ® ), intercalados ou em associacao. A alimentacao de Lg1 incluiu sucedâneo de leite (Petmilk ® ) fornecido com auxilio de seringa de 3 mL nos tres primeiros dias, e adicao gradativa do mesmo a alimentacao umida para filhotes, com posterior uso de codorna e carne de frango. Em decorrencia do elevado grau de desnutricao apresentado por Lg2 e da ausencia do interesse deste em se alimentar, optou-se pelo fornecimento de alimento (dieta para animais convalescentes – Recovery ® ) via sonda naso-esofagica ate o inicio do interesse pela alimentacao convencional, com codorna e carne de frango. Durante todo o periodo de criacao, a interacao da equipe tecnica com os animais limitou-se aos periodos de alimentacao, limpeza, pesagem e medicacoes, e todos os filhotes permaneceram alojados individualmente em gaiolas ambientadas com galhos, grama artificial, caixa de areia, plataforma elevada e ursos de pelucia. As gaiolas tambem permaneceram cobertas com toalhas que limitaram os estimulos visuais aos filhotes. Observou-se que a adocao deste metodo de criacao permitiu a manutencao de comportamento selvagem e desinteressado ao contato humano nos individuos Lw1 e Lg2, contudo o mesmo nao ocorreu com Lg1, que teve historico de convivio com humanos antes do recebimento no HV e que exigiu maior contato da equipe na oferta de leite. De forma a minimizar este comportamento, optou-se por unir, apos um periodo de 15 dias, Lg1 e Lg2 em um mesmo espaco, o que reduziu a ansiedade e interesse de Lg1 com a equipe de trabalho. Conclui-se portanto, a importância do minimo contato entre pacientes orfaos e a equipe tecnica quando o objetivo da criacao incluir a destinacao destes para fins de reproducao ou reintroducao na natureza, e tambem a alternativa em criar filhotes em conjunto para minimizacao do imprinting com humanos.

Referência(s)