REVISTA COMPLETA. Ano 15, Número 02: Edição dezembro de 2017
2017; Volume: 15; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
1679-9887
AutoresPsicanálise e Barroco em Revista,
Tópico(s)Brazilian cultural history and politics
ResumoApresentamos o segundo volume da decima quinta edicao de Psicanalise & Barroco em Revista, convidando nossos leitores a apreciar os novos artigos que nela se encontram. Comecamos pelo texto de Joana Souza que em “O traco como fundamento da memoria social” realiza uma subversao na concepcao tradicional acerca da memoria, e evidencia que conforme Freud e Lacan ensinam e impossivel separar interno e externo, subjetivo e social, pois, essas dimensoes mantem uma relacao nao de oposicao, mas de continuidade. Assim, os tracos que regem uma cultura expressam inscricoes internalizadas pelo sujeito, e sao rememorados, esquecidos, e retornam nos atos, nos ritos e celebracoes que conservam e ao mesmo tempo possibilitam a recriacao de novos sentidos. Nessa visada, que e prenhe de consequencias, a memoria longe de ser um arquivo morto, e viva, atuante, sempre aberta a novas organizacoes, tendo portando um carater inventivo e criacionista. Falando em memoria e transmissao, o mito grego de Antigona, escrito por Sofocles, e muito caro a psicanalise, ja que ela foi capaz de transgredir as leis da polis para levar o mais longe possivel o seu desejo. No texto “ Uma Antigona Brasileira: A construcao da memoria de Eunice Paiva e da sua atuacao em defesa da dignidade humana para alem da lei” , Mariana Rodrigues Festucci Ferreira constroi as memorias de Eunice Paiva em articulacao com a tragedia de Antigona. Eunice teve o marido extraido de seu convivio por agentes da ditadura militar no ano de 1971, tendo tido indicacoes de que ele havia sido assassinado. Reivindicou o reconhecimento de sua morte e a revelacao de onde o corpo estaria enterrado para que lhe pudesse prestar as honrarias funebres. Indo para alem da dimensao pessoal da tragedia, Eunice passou a militar pelos direitos civis dos desaparecidos e familiares de todo o Brasil. E, como advogada atuou contra a violencia e expropriacao indevidas de terras sofridas pela populacao indigena. O artigo evidencia que sustentar o desejo, indo alem do Outro e um ato com efeitos nao apenas singulares, mas se configura como um ato politico. Ainda em articulacao com a arte, no texto “As mulheres de Klimt: o real do feminino” , Tharso Peixoto Santos e Souza evidencia que Gustav Klimt, contemporâneo a Freud, aponta com sua arte para a dimensao do feminino, em consonância com o que Freud pode fazer por meio da Psicanalise. Ao retratar inumeras mulheres nuas, que encaram o espectador com um olhar de desafio, numa atmosfera de erotismo incomum a imagem da mulher vienense de seus dias, Klimt evidencia a impossibilidade de dominio sobre esse corpo, tal qual a histeria vinha denunciar. A relacao do sujeito com a castracao, e, portanto, com a falta se evidencia nessas imagens, apontando o lugar do indecifravel, via regia de todo processo de analise, e terreno fertil para que as questoes sobre o feminino possam emergir. No texto “From incestto tragedy – psychoanalytic readingof the Tale, Angel, Lost, from the Brazilian Writer Arriete Vilela” , Yvisson Gomes dos Santos toma o conto da escritora brasileira e alagoana, Arriete Vilela, Anjo Perdido, para discutir o tema da tragedia, do incesto e da feminilidade. A autora foi de extrema importância pela insercao da literatura alagoana no contexto literario brasileiro, mantendo seu sotaque nordestino pode dar visibilidade a sua regionalidade. Esse texto e apresentado em ingles, tal como nos foi enviado, o que abre um novo canal em nosso periodico para apresentar textos tambem em outras linguas. Ampliando o campo de discussao da psicanalise, Guilherme Henrique Lima Barati e Jose Roberto Montes Heloani no artigo “Entre a sobrevivencia e subserviencia: desmanche das praticas de coaching” tratam de uma tematica bastante atual e com serias consequencias eticas: as contradicoes e impasses nas praticas de coaching. Nele o coaching surge como um representante do discurso do mestre. Este, geralmente e convocado quando se abrem brechas, fendas, arranhoes que deformam a imagem e colocam em xeque as referencias identificatorias do que e ser bem-sucedido. Contudo, os aspectos pessoais e singulares que disparam processos deformadores bem como desidentificacoes sao indicios de um mal-estar que evidenciam a emergencia do sujeito e suas rupturas, o que torna possivel questionar se e possivel encobrir essa fenda, ou se ao tentar preencher uma lacuna, outras surgem, pois como Lacan afirma, havera sempre algo de inadministravel no sujeito. A clinica psicanalitica e um tema sempre presente em nossas discussoes, vamos agora alguns artigos que nos levam a pensar sobre alguns impasses que precisam ser tomados pelos analistas. Sendo a clinica escola presente em muitas Universidade, um espaco possivel para uma certa introducao a aspectos relativos ao exercicio da psicanalise, o texto “Freud, Lacan e a hiper-realidade na transmissao da psicanalise” , de Daniel Migliani Vitorello, trava um pertinente debate sobre a transmissao da psicanalise e sua ancoragem na transferencia. O autor questiona se a transferencia nao poderia torna-se um instrumento de controle, de disseminacao de um ideal e exercicio de poder, como Lacan aponta nos mecanismos institucionais pos-freudianos. A transmissao da tecnica em psicanalise e associada com a nocao de hiper-realidade de Baudrillard, pela possibilidade de ela vir a se constituir como um simulacro. Estrutura que ficaria aquem de um analista, e do poder subversivo que a psicanalise e sua transmissao comportam. Freud ja advertia que um curso universitario nao assegura a existencia de um analista, a formacao de um psicanalista se ancora em um tripe constituido por analise pessoal, estudo teorico permanente e supervisao. Contudo, isso nao significa dizer que a psicanalise esta excluida das universidades, ao contrario, ela se faz presente e sustenta seu discurso integrando as disciplinas curriculares e a pratica clinica nas clinicas-escolas. O artigo “As vicissitudes da psicanalise nas clinicas-escolas e servicos de psicologia” de Bruna Adames e Gustavo Angeli discute os desafios e possibilidades de sustentar uma orientacao que toma a psicanalise em conta nesses espacos de formacao universitaria. Ainda que acolhendo muitas controversias, a clinica-escola e um espaco para a criacao de estrategias de intervencoes e o exercicio da pratica clinica psicanalitica, contudo, esta submetida a uma logica institucional, e nao se pode assegurar que aquele aluno que ali esta, esteja em analise pessoal, e, que, portanto, esteja ancorado do tripe de formacao. Alem disso, ha ainda todo enquadramento institucional a ser considerado. Revisitando os textos freudianos sobre a tecnica os autores discutem a tematica. Por essa mesma via, considerando a clinica escola um espaco possivel de introducao no exercicio de uma escuta de carater psicanalitico, optamos por incluir nessa edicao um artigo produzido nesse contexto, que evidencia o inicio de um percurso teorico e clinico de quem decide se aventurar pela psicanalise. Elson Eneas Cavalcante Bezerra e Cleber Lizardo de Assis, no artigo “Notas sobre o transtorno obsessivo-compulsivo a partir de um caso clinico em psicoterapia psicanalitica” , apresentam um caso clinico de neurose obsessiva atendido na clinica-escola de uma universidade, apontando que tais espacos de aprendizagem possibilitam um ponto de partida. Fechamos esse numero com uma bela resenha escrita por Janaina Bianchi de Mattos, sobre o livro “Rio de Janeiro (1937-1959) Uma Psicanalise Possivel” , elaborado a partir da dissertacao de mestrado de Maria Teresa Saraiva Melloni, defendida no curso de Pos Graduacao em Historia das Ciencias e da Saude da casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz. Seu titulo: “O Movimento Psicanalitico no Rio de Janeiro (1937-1959): um processo de institucionalizacao”. Nela, a autora faz um percurso historico da psicanalise e de seu processo de institucionalizacao no Brasil, evidenciando, como bem ensina Lacan, que um analista deve estar atento a subjetividade de sua epoca, pois, os arranjos sociais, politicos e economicos se evidenciam no modo de cada epoca produzir, aplicar e transmitir um saber. Por ora, ficamos aqui, nesse ponto, qual seja, o de transmitir um saber, ou uma relacao ao saber. Perspectiva crucial desse nosso periodico que novamente sai do forno, para sua degustacao. Por Nilda Martins Sirelli e Denise Maurano Mello
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