Diálogos intertextuais entre Jorge de Sena e Carlos Drummond de Andrade
2017; University of North Carolina at Chapel Hill; Volume: 181; Issue: 1 Linguagem: Português
10.1353/hsf.2017.0047
ISSN2165-6185
Autores Tópico(s)Literature, Culture, and Criticism
ResumoDiálogos intertextuais entre Jorge de Sena e Carlos Drummond de Andrade1 Dora Nunes Gago O presente artigo pretende demonstrar em que medida os diálogos literários com o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade poderão transparecer na obra do escritor português Jorge de Sena. Para tal, partiremos de Estudos de Literatura e Cultura, assim como da análise de três poemas relacionados com o Brasil da autoria de Jorge de Sena e também de Alguma Poesia de Drummond de Andrade, usando como enquadramento teórico os contributos de Laurent Jenny, Genette, Kristeva e Adrian Marino, entre outros. Jorge de Sena "sonhou em dar ao Brasil, através da língua portuguesa, uma situação de prestígio na literatura mundial" (Andrade, "Jorge de Sena" 113). Esta afirmação tecida por Drummond de Andrade num artigo escrito sobre o poeta no ano da sua morte (1978), publicado primeiramente no Jornal de Brasília de 8 de Dezembro e depois republicado por Eugénio Lisboa em Estudos sobre Jorge de Sena, revela, a priori, o reconhecimento da importância conferida por Sena à literatura brasileira. Deste modo, principiaremos por focar o encontro de Sena com a literatura brasileira e a crítica literária, para depois analisarmos os ecos da poesia de Drummond na sua obra, as afinidades existentes e a eventual presença de influências. Neste processo hermenêutico, não podemos esquecer o conceito de intertextualidade cunhado por Julia Kristeva em 1966, inspirado pela obra de Bakhtin, que apresenta inicialmente o texto como um espaço no qual os processos relacionais constituem o foco de análise em detrimento das estruturas estáticas (Friedman 147). Assim, o texto surgirá como o fruto de um diálogo entre diversas obras, numa insterseção de palavras e ideias. Nesta medida, qualquer texto se assume como uma amálgama de citações, ou, melhor dizendo, tal como afirma Kristeva: "any text is the absorption and transformation of another. The notion of intertextuality replaces that of intersubjectivity, and a poetic language is read as at least double" (66). Esta [End Page 109] linha de pensamento é retomada por Laurent Jenny ao afirmar que "fora da intertextualidade, a obra literária seria muito simplesmente incompreensível, tal como as palavras duma língua ainda desconhecida" (5). Partindo duma noção abrangente de intertextualidade, analisaremos o diálogo intertextual entre Jorge de Sena e Drummond de Andrade. Além disso, consideraremos também a questão dos modelos literários, partindo dos pressupostos teóricos de Adrian Marino e de Álvaro Manuel Machado. Segundo Adrian Marino (1988), os modelos são construções analógicas, isomorfas, correspondendo à descrição teórica e abstrata de uma estrutura, que possibilita explicar a função e organização constantes do sistema e integrando sempre uma função criativa. Neste contexto, Álvaro Manuel Machado (1986), coloca a questão do estatuto do modelo literário, distinguindo, por um lado, modelos produtores e, por outro, modelos de referência. No que concerne ao primeiro, o "modelo produtor" é aquele que provoca, desperta a "re-criação literária", quer a nível da escrita, quer da história das ideias; enquanto o segundo, situado num plano mais distante de admiração ou afinidade, é um elemento frequentemente datado, que não se integra no fundamental da obra, não é assimilado estruturalmente, assumindo-se sobretudo como o "rappel duma visão de conjunto vaga e fragmentária" (Machado, "Génio Nacional" 285). Mais recentemente, no início do século xxi, algumas novas perspetivas se abriram no domínio do estudo da intertextualidade. Assim, Tiphaine Samoyault, na obra Inter-textualidade (cuja primeira edição, em francês, data de 2005), propõe uma "poética dos textos em movimento" (11), centrando a análise da noção de intertextualidade numa profunda reflexão sobre a memória da literatura. Por sua vez, Graham Allen, em Intertextuality (2011), analisa a intertextualidade em relação com o estruturalismo, pós-estruturalismo, desconstrução, pós-colonialismo, marxismo, feminismo e teoria psicanalítica. Além disso, avança algumas conclusões concernentes ao futuro desta temática, que relaciona também...
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