REVISTA COMPLETA. Ano 15, Número 01: Edição julho 2017
2018; Volume: 15; Issue: 1 Linguagem: Português
ISSN
1679-9887
AutoresPsicanálise e Barroco em Revista,
Tópico(s)Linguistics and Education Research
ResumoE com muita alegria que apresentamos a mais nova edicao de Psicanalise e Barroco em Revista! Fomos presenteados com belissimos artigos, versando a articulacao da psicanalise com as artes, com a cultura e a politica, com o feminino e a educacao. Vamos percorrer cada um desses textos, para que nosso leitor fique com gostinho de quero mais, e seja convidado a leitura! Iniciamos com o texto “O fenomeno das manifestacoes de rua no Brasil: uma leitura psicanalitica do comportamento das massas” de Vera Lucia Prates dos Santos Nogueira. O texto se debruca sobre um tema atual e de extrema relevância: as manifestacoes de rua que aconteceram no Brasil em 2015 e 2016, mas que ainda avancam, por vezes, carregadas de agressividade e violencia. A autora retoma os textos freudianos que versam sobre o posicionamento das massas, que agem por identificacao, e os efeitos do discurso capitalista sobre esses sujeitos. Ao mesmo tempo, aponta a possibilidade de um sujeito desejante emergir com um posicionamento decidido, diante da politica que inclui cada um de nos. Ainda discutindo o campo da cultura, Lucas de Oliveira Alves, Jane Martins e Mauricio Eugenio Maliska no artigo “Sujeito, discurso e ideologia: uma compreensao psicanalitica sobre a posicao do sujeito em discursos midiaticos” articulam a constituicao e a posicao do sujeito nos discursos midiaticos, com os quatro discursos propostos por Lacan. Identificam correlacoes entre a midia e o discurso universitario e capitalista, alem da possibilidade da assuncao do discurso da histerica. Compreende-se, ainda, que a midia atua no campo ideologico, alienando sujeitos em significantes por meio de uma fantasia social que molda a realidade. Magali Milene Silva, em “O sujeito da psicanalise e o cogito cartesiano – uma questao estrutural”, explora o modo como Lacan se propoe a pensar o sujeito da psicanalise em sua assertiva de que este e o sujeito da ciencia moderna tal como depreendido do cogito cartesiano. Sao percorridas as principais referencias de Lacan sobre Descartes, buscando situar a leitura lacaniana do cogito como estrutural, para entao problematizar a visada de alguns autores como Charles Melman, de que estariamos em uma nova era, a pos-modernidade, com novos sujeitos, diversos daquele sobre o qual a psicanalise opera. Pensando o sujeito e o laco social, a autora evidencia que o mal-estar inerente a cada sujeito continua a ser sustentado pelo inconsciente. Outra discussao contemporânea refere-se a transsexualidade. Lauro Barbosa, em “Consideracoes sobre o falo e as psicoses”, evidencia a relacao e a disjuncao entre o empuxo a mulher, presente nas psicoses, e a transsexualidade. Para tal, faz uma ampla pesquisa nos textos lacanianos, evidenciando a tendencia da psicose a feminizacao, e, a apropriacao que alguns psicanalistas fazem dessa assertiva, considerando a transexualidade enquanto um fenomeno proprio ao campo das psicoses. O autor destaca que a tendencia a feminizacao nas psicoses decorre da foraclusao do Nome-do-Pai e da zerificacao do falo, introduzindo uma dialetizacao: mesmo que as psicoses, atraves da nocao de empuxo-a-mulher, possam se aproximar a transexualidade em alguns casos, ambas nao sao, necessariamente, correspondentes. Falando em sexualidade e cultura, o texto “De A Bela Adormecida a Malevola: o papel da mulher na sociedade” de Karen Sihe e Fernanda Real Dotto analisa, atraves dos filmes “Malevola” e “A bela adormecida” as mudancas no lugar discursivo que a mulher vem ocupando no laco social. Realiza uma reflexao historica e filosofica acerca do papel feminino ao longo das releituras do proprio conto, como forma de reescrever a sociedade e seus papeis de genero. Retomando os classicos literarios, Rafael Santos Barboza parte da obra Frankestein (ou O Moderno Prometeu), escrito por Mary Shelley em 1818, para pensar os conceitos de desamparo e estranho em psicanalise. No artigo “O monstro demasiadamente humano: o olhar da psicanalise sobre o desamparo” evidencia que todo sujeito nasce no desamparo, sendo acolhido pelo Outro, contudo, Frankestein e destituido de uma posicao no laco social, nao encontrando qualquer amparo. Sua origem e sua imagem fragmentada sao motivo de estranhamento e rechaco, mas e preciso lembrar, que o estranho e tambem familiar, de forma que revela algo intimo a cada um de nos. O artigo “Escrita e embriaguez em Fernando Pessoa: um estudo psicanalitico” deYrismara Pereira da Cruz e Raul Max Lucas da Costa entrelacam o alcool e a escrita em Pessoa, no sentido de ambas serem utilizadas como medidas paliativas frente ao mal-estar, e por terem o efeito de narcose. Freud ja evidenciava que a arte era umas das maiores fontes de satisfacao de uma cultura, e que cada sujeito precisa inventar para si formas de lidar com o mal estar, sendo os entorpecentes uma dessas vias. A arte e uma producao da cultura frente ao mal estar, e suas manifestacoes se articulam a subjetividade. O artigo “A linguagem da imagem: notas sobre o sujeito em causa na tv e no cinema” de Maysa Puccinelli e Daniela Scheinkman Chatelard esclarecem que a montagem da imagem televisiva e cinematografica e tributaria de uma logica de producao que determina a linguagem final de ambas. O pano de fundo teorico que sustenta esta discussao esta referido as contribuicoes lacanianas, sobretudo, ao enredamento pulsional escopico, a captura do sujeito na cadeia significante e a producao de sentido figurada pela fantasia. Veremos que, enquanto um tipo de linguagem cinematografica pode se construir sob uma racionalidade que comporte o sujeito, a imagem televisiva se erige na contramao desta logica. Lacan ensina que a imagem desperta uma fascinacao, pois nela o sujeito suporta uma miragem de totalidade, nao e a toa as artes que se ligam as imagens tomarem grande lugar na nossa cultura e na nossa vida. Marcelo de Oliveira Prado e Tiago Ravanello,no artigo “Consideracoes sobre o papel do psicanalista frente a arte”, estabelecem uma categorizacao da relacao entre a arte e a psicanalise na obra freudiana a partir de uma analise realizada com os quatro discursos propostos por Lacan. Os autores propoem tres categorias de analise: a analise do autor a partir da obra, a analise do discurso de personagens de uma obra de ficcao para demonstracao de um saber ja construido, e da arte enquanto explicitador do impacto real de das Ding com o discurso do analista. A partir do livro (que tambem deu origem a um filme) “Precisamos falar sobre o Kevin” (2007), de Lionel Shriver, o texto “O lado oculto da infância: um olhar psicanalitico acerca da perversidade infantil”, de Andressa Alves Ferreira e Marcos Pippi de Medeiros, destacam a perversidade infantil a partir da teoria psicanalitica. O trabalho parte de formulacoes teoricas acerca da perversao para, a partir disso, construir um ensaio onde sera analisada a infância de Kevin Khatchadourian, autor de um massacre que teve como consequencia a morte de onze pessoas, alem de seu pai e sua irma. No ensaio, busca-se tecer consideracoes, identificando elementos marcantes de sua vida, como sua relacao com seus pais e com a sociedade, a fim de construir indagacoes acerca da perversidade infantil nos processos subjetivos e sociais contemporâneos. Freud ensina que toda crianca e um perverso polimorfo, contudo, cultura e educacao incidem produzindo novas organizacoes na libido infantil. Ele ainda esclarece que nesse processo o laco com o outro e fundamental. O artigo “Apropriacoes do saber psicanalitico pela psicopedagogia: contribuicoes ao campo do desejo” deJoyce Hilario Maranhao, Camilla Araujo Lopes Vieira e Karla Patricia Holanda Martins discute quais leituras a psicopedagogia faz da psicanalise para apoiar sua praxis e que contribuicoes do campo psicanalitico sao possiveis para se considerar o sujeito e suas dimensoes transferenciais no processo psicopedagogico. Evidenciam que a psicanalise pode contribuir para intervir nas dificuldades de aprendizagem por incluir no campo educacional o desejo do sujeito em sua relacao com o saber. Desejamos a todos uma boa leitura! Denise Maurano Mello e Nilda Sirelli
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