
O pensamento diplomático brasileiro em relação aos Estados Unidos durante os governos Cardoso e Lula: acomodacionistas x revisionistas
2018; Volume: 7; Issue: 1 Linguagem: Português
10.36311/2237-7743.2018.v7n1.01.p143
ISSN2237-7743
Autores Tópico(s)Education and Public Policy
ResumoO objetivo deste artigo consiste em retratar um dos principais debates intelectuais que produziu cisões no pensamento diplomático brasileiro a partir dos anos 90, especialmente durante os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010), a saber: o tipo de relacionamento a ser estabelecido com os Estados Unidos. Para tanto, mostraremos de que forma este debate se manifestou, as correntes de pensamento por ele engendradas no interior do Itamaraty, o conjunto de crenças e percepções que sustentaram tais correntes no período em estudo bem como as estratégias de política externa delas oriundas. Os resultados da pesquisa apontam que, neste período, duas tendências se mostraram dominantes no Itamaraty, embora em momentos distintos. A primeira, que damos o nome de acomodacionista, teria predominado durante a administração Cardoso e defendia uma posição de maior aproximação aos EUA, no marco de uma estratégia de acomodação à ordem internacional liderada pela potência hegemônica. A segunda corrente, que chamamos de revisionista, teria ganho proeminência na administração Lula, e preconizava maior autonomia frente à potência hegemônica, com quem o relacionamento brasileiro devia se sustentar na igualdade irrestrita, dentro de uma lógica de equilíbrio de poder. Essa posição de distância relativa frente os EUA se enquadrava em uma estratégia de “multipolarização” ou desconcentração do poder mundial e de revisionismo da ordem internacional vigente. O desenvolvimento da pesquisa ancorou-se fundamentalmente na investigação de discursos, entrevistas, depoimentos, livros e artigos das principais autoridades a frente do Itamaraty (chanceleres e embaixadores) no período em estudo. Palavras-chave: Pensamento Diplomático; Política Externa Brasileira; Estados Unidos. Abstract: The objective of this article is to portray one of the main intellectual debates that produced divisions in Brazilian diplomatic thought starting in the 1990s, especially during the Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) and Lula da Silva (2003-2010) governments, namely: the kind of relationship to be established with the United States. To do so, we will show how this debate manifested itself, the currents of thought generated by it within the Itamaraty, the set of beliefs and perceptions that underpinned these currents in the period under study as well as the foreign policy strategies that came from them. The results of the research indicate that, during this period, two tendencies were dominant in Itamaraty, although at different moments. The first, which we call the accommodationist, would have predominated during the Cardoso administration and advocated a position of greater approximation to the United States, within the framework of a strategy of accommodation to the international order led by the hegemonic power. The second current of thought, which we call revisionist, would have gained prominence in the Lula administration, and advocated greater autonomy against the hegemonic power, with whom the Brazilian relationship should be based on unrestricted equality, within a balance of power logic. This relative distance from the US was part of a strategy of "multi-polarization" or deconcentration of world power and revisionism of the current international order. The development of the research was fundamentally based on the investigation of speeches, interviews, testimonies, books and articles of the main authorities in front of the Itamaraty (chancellors and ambassadors) during the period of study. Keywords: Diplomatic Thought; Brazilian Foreign Policy; United States. Recebido em: agosto/2017 Aprovado em: abril/2018.
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