Artigo Acesso aberto

A transculturação de Silva Porto na África Central ― Viyè ― Século XIX

2015; Issue: 5 (10) Linguagem: Português

10.4000/mulemba.1929

ISSN

2520-0305

Autores

Constança do Nascimento da Rosa Ferreira de Ceita,

Tópico(s)

African history and culture studies

Resumo

O estudo do fenómeno da transculturação tem encontrado um vasto terreno de análise na África Central. De acordo com Fernando Ortiz, a transculturação é um fenómeno entendido como a transição de uma cultura para outra, ocorrendo a perda ou o desligamento parcial da cultura precedente (cf. IZNAGA 1982: 16-19). É a partir de tais pressupostos que o cientista social cubano formula uma base teórica sobre a transculturação ocorrida entre várias culturas decorrentes do meio social. Com o presente trabalho, procuramos equacionar a nossa pesquisa no âmbito dos processos resultantes do entrelaçamento entre várias culturas em contacto, em pleno meio histórico e sociocultural Ovimbundu, no Planalto Central de Angola, num contexto espacial da África Central. Decorrentes dos vários contactos aí estabelecidos, essa diversidade cultural deu lugar a identidades múltiplas.O fenómeno da transculturação estudado, desenvolveu-se no segundo quartel do século XIX. A complexidade e abrangência do mesmo, conduziram-nos a uma abordagem centrada na história biográfica do sertanejo português, António Francisco Ferreira da Silva Porto — um personagem que do ponto de vista histórico ficou mais conhecido por Silva Porto (1839-1890) —, com particular incidência sobre o seu envolvimento no meio socio-cultural ovimbundu.Neste artigo, procuramos analisar o itinerário de interacção socio-cultural entre o sertanejo e a sociedade ovimbundu, realçando o relacionamento intercultural, a história das relações sociais e transculturais operadas entre este e a referida sociedade que o acolheu em 1839. Desse relacionamento intercultural constituiu-se uma importante «zona de contacto», que consideramos muito justamente como a zona de convivência socio-política, económica e cultural. A este propósito, a historiadora Mary Pratt, que reflectiu e inovou sobre a expressão «zonas de contacto», definiu-o como espaços sociais onde culturas diferentes se encontram, chocam e aprendem a lidar uma com a «outra», quase sempre em relações assimétricas (cf. PRATT 2005: 4).Nesta conformidade, a síntese do nosso trabalho reflecte a problemática de um processo de transculturação ocorrida especificamente na sociedade ovimbundu em Angola e, em geral, na África Central, a partir do confronto entre a cultura europeia e a cultura africana, particularmente portuguesa e ovimbundu, sobretudo. Trata-se, enfim, de um estudo histórico-antropológico articulado sobretudo a partir de quatro variáveis: o casamento poligínico, a alimentação, o comércio e a religião, variáveis essas que, em nosso entender, viriam a determinar a transculturação do sertanejo português na África Central.

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