
AO CABARÉ NUNCA MAIS: O IDEAL FEMININO E A RESTRIÇÃO DOS SEUS ESPAÇOS NO ALTO MADEIRA
2018; Volume: 28; Issue: 1 Linguagem: Português
10.47209/1519-6674.v.28.n.1.p.247-261
ISSN1519-6674
AutoresAleandro Gonçalves Leite, Alex Filipe Gomes dos Santos,
Tópico(s)Youth, Politics, and Society
ResumoEsta análise busca compreender os mecanismos discursivos na formação do “ideal feminino” nas páginas do jornal Alto Madeira na década de 1980. Tendo em vista a efervescência, nesse período, dos garimpos às margens do Rio Madeira e a longa distância que muitos deles tinham de Porto Velho, pequenos núcleos urbanos improvisados formavam-se no entorno da atividade garimpeira. Mesmo erguidos com madeira não beneficiada e pedaços de lona, muitos barracos transformavam-se em pequenos comércios que possuíam múltiplas funções para atender às demandas dos trabalhadores. Não demorou para que muitos desses pontos comerciais, de tão polivalentes (sendo, muitas vezes, no mesmo local, bar-restaurante-cabelereiro-oficina mecânica), também se tornassem centros de prostituição. Em 1981, a Polícia Civil deflagrou a “Operação Garimpo” com o objetivo de garantir a segurança nos garimpos mais desassistidos. No ano seguinte, a operação foi levada adiante delimitando restrições, proibindo a entrada nos garimpos de bebidas, cocaína, maconha e mulheres. A restrição pautava-se na conjugação entre álcool e mulheres como principal responsável pelas confusões que lá ocorriam. Neste viés, os discursos veiculados pelo Alto Madeira sobre a mulher e sua função social apontavam para a naturalização da responsabilidade feminina em seus postos “dignos” de trabalho, indicando a moralidade e a pudiscidade como características a serem cultivadas. Há, discursivamente, portanto, uma seletividade dos espaços a serem ocupados na sociedade a partir de um critério de gênero, que atribui à mulher uma responsabilidade “natural”, por ser foco de “confusão” e por ter que prestar penitência em honra às conquistas desses espaços selecionados.
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