
NATUREZA DA CRENÇA EM DAVID HUME
2018; UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA; Issue: 20 Linguagem: Português
10.13102/semic.v0i20.3203
ISSN2595-0339
Autores Tópico(s)Memory, Trauma, and Testimony
ResumoSegundo David Hume, a vida de cada um de nós está recheada de certezas que ultrapassam os registros de nossa memória e o testemunho presente dos nossos sentidos, isto porque não tratam do passado nem do presente. São certezas acerca do futuro. Estas certezas podem existir em nós com tamanha força que sequer estão em nossas mentes como alternativas, entre outras, nas quais notamos que cremos. Podem estar dadas naturalmente tão quanto ocorre de estarmos respirando sem consciência disto. Por exemplo: ao caminharmos, não há dúvida em nossas mentes a cada passo que damos de que a lei da gravidade irá continuar funcionando como sempre funcionou, ainda que nossa imaginação possa conceber que viesse a mudar. A certeza já está incutida no próprio ato sem que nós pensemos nesta questão. Essa certeza aparece ainda que reflitamos acerca duma questão dessas. Se alguém segura uma caneta e nos pergunta o que ocorrerá se solta-la, ainda que possamos imaginar que ela subirá ou parará no ar, cremos, afirmaria Hume, na alternativa de que irá cair. Este autor nos dirá que este tipo de certeza se refere a uma categoria de objetos da investigação humana que chama de Questões de Fato, que se caracteriza por o contrário do que é pensado ser sempre possível e não implicar contradição. Exemplifica que a afirmação que o sol não nascerá amanhã não é menos inteligível nem implica mais contradição que a afirmação de que ele nascerá, visto que a mente concebe ambas com a mesma facilidade e clareza como possibilidades ajustáveis à realidade, de modo que seria vão tentar demonstrar sua falsidade, pois se fosse demonstrativamente falsa sequer a mente poderia concebê-la distintamente na medida que implicaria uma contradição. Fica a questão: o que nos da garantias, para além do testemunho presente de nossos sentidos ou dos registros de nossa memória, quanto a qualquer questão de fato sobre o futuro? Isto é, o que nos faz crer que no próximo segundo a lei da gravidade continuará funcionando ou que a caneta cairá se solta? Ao tratar sobre as questões de fato, interessado na natureza das evidências neste tipo de investigação, afirma que se nos perguntarmos o que nos da garantias, encontraremos um processo que resulta no que chamou de crença. Há, no entanto, uma crença que possui outra configuração tratada por Hume na seção 10 de suas Investigações Acerca do Entendimento Humano (1748). Esta é a crença em milagres a partir do testemunho de terceiros. “Outra configuração” porque além de não poder ser explicada totalmente pelo processo de formação de crenças descrito primeiramente na obra, nosso autor concluirá que nenhum testemunho de terceiro é suficiente para estabelecer um milagre se em contexto religioso e com pretensão de fundar um sistema religioso com o caráter do que este autor chamou de “religiões populares”, como também os não-religiosos ao menos que a falsidade destes fosse ainda mais miraculosa do que o fato que pretendem estabelecer – acontecimento este que, segundo Hume, nunca houve demonstrativamente, e numa segunda posição que talvez seja impossível encontrar algum assim em todos os registros da historia. Não obstante as conclusões anteriores, ainda assim há quem creia, a partir de testemunhos, que milagres ocorreram. Sendo assim, a presente pesquisa tomou como objeto de investigação a seguinte questão: qual seria a natureza dessa crença na perspectiva humeana?
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