Editorial Acesso aberto Produção Nacional

Editorial: A Emergência e o Campo da Teoria Organizacional

2018; UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO; Volume: 16; Issue: 2 Linguagem: Português

10.21714/1679-18272018v16n2.pi-iii

ISSN

1679-1827

Autores

Francisco Vicente Sales Melo, Taciana de Barros Jerônimo,

Tópico(s)

Social and Economic Solidarity

Resumo

Prezados Leitor@s, Os estudos organizacionais têm origens históricas nos escritos de pensadores do século XIX (REED, 1998). E, aqueles voltados para as teorias das organizações vêm passando por constantes evoluções. Embora existam várias teorias ditas ‘modernas’, observa-se que aquelas que deram origem a esta ciência, servem de base para que sejam determinadas novas diretrizes deste conhecimento. Verificando o campo em que os estudos organizacionais estão centrados atualmente, esta resenha inicialmente, apresentará a introdução do livro, volume 1: Handbook de estudos organizacionais de Clegg e Hardy (1998). Este texto permite uma reflexão sobre as tendências dos estudos organizacionais além de considerar algumas mudanças no mundo da academia, mais especificamente dos acadêmicos. Em seguida, serão verificadas suas origens e como até hoje esta ciência é trabalhada por pesquisadores contemporâneos. Abordando a questão das mudanças, Clegg e Hardy (1998 p. 28) argumentam: “Qual a aparência do mundo de hoje? Como ele tem mudado? Qual o seu significado para os estudos das organizações?”. Para formulação das respostas, os autores tecem comentários voltando aos anos 60 chegando até a prisão de Nelson Mandela. Passada a reflexão, os autores consideram que a “maioria das organizações ainda dependia da instrução de vigilância da comunicação pessoal, escrita ou verbal, e confiava na discrição profissional para monitorar as áreas da vida organizacional com menos condições de ser rotinizadas”. Prolongando a reflexão, consideram que as “hierarquias eram as normas, os microcomputadores ainda não tinha sido inventado e o único modo de comunicação instantânea era o telefone”. Neste contexto poderíamos imaginar como seria o mundo de hoje sem tantos equipamentos e tecnologias? Até para escrever esta resenha a realidade seria outra, pois nem computador tinha; tinha que ser à mão. Clegg e Hardy (1998 p. 28) afirmam que “desde aquele tempo as coisas vêm mudando (...) Notamos o surgimento da organização virtual, em rede global e pós-moderna” (CLEGG e HARDY, 1998 p. 28). Não é difícil afirmar esta consideração dos autores. São notórias as mudanças que vêm acontecendo de forma rápida. A dinâmica é tão grande que alguns não conseguem acompanhar. Para Clegg e Hardy (1998 p. 28), nos últimos 30 anos não foram apenas as base, mas, além disso, foram produzidos novas abordagens e conceitos. Novas abordagens teóricas, como a ecologia populacional, economia organizacional, teoria contingencial, e outras, têm evoluído sob o arcabouço dual do funcionalismo e da ciência normal, que permanecem impulsionando os estudos voltados para as organizações até os dias de hoje (CLEGG; HARDY, 1998). Passados vinte anos dessas considerações, seria possível afirmar que houveram mudanças substanciais no campo? No contexto das mudanças, observa-se que existem diversos comentários dos autores, tais como, a evolução dos discursos dominantes, atributos que caracterizam homem e mulher, subjetividade, diversidade, conhecimento, dentre outros, passando para uma reflexão do que são estudos organizacionais. Antes de chegar à reflexão sobre os paradigmas e políticas organizacionais, Clegg e Hardy (1998 p. 28) partem de uma premissa: “organizações são objetos empíricos”. Consideram que quando observam uma organização vêem algo de fato, porém pode existir diversos olhares para um mesmo organismo com interpretações diferentes. Neste sentido, os autores ainda consideram que as organizações são efeitos da interação recíproca de conversações múltiplas. Mais além, iniciam as considerações sobre os paradigmas com reflexos, que abrangem diversos estudiosos. Clegg e Hardy (1998 p. 36) afirmam que para entender o debate dos paradigmas, “deve-se vê-lo como uma luta por espaço acadêmico entre indivíduos com valores, hipóteses e agendas muito diferentes, como se fosse um torneio metafórico: há vencedores e perdedores, lances defensivos e bazófios derrotadas, cores e sabores, rainhas e reis, cavaleiros e nobres, barões e servos, grandes discursos e gestos vazios”. Após estas considerações, Clegg e Hardy (1998 p. 38) partem para uma análise indo da burocracia à fluidez com enfoque em novas formas de organizações. Os autores deixam claro que a burocracia teve sua relevância na vida organizacional, no entanto, consideram que vários autores reconhecem o surgimento de novas formas de organização. Um ponto interessante é reflexão forte que os autores nos trás quando afirmam que “as fronteiras que antes delimitavam a organização, estão sendo derrubadas, à medida que as entidades se fundem e se descaracterizam, passando a formar “cadeias”, “conglomerados”, “redes” e “alianças estratégicas”, questionando a relevância de um foco organizacional”. Explanam o conteúdo do texto dando ênfase a questões como a competição e cooperação nas organizações, o valor, as redes e alianças, a perspectiva de incubadores, chegando até as ideias do pós-modernismo, além disso, considera contextualiza as relações de poder. Mesmo que de forma superficial, as considerações ficam implícitas. Cabe ressaltar que os autores explanam sobre teoria da contingência e afirmam: “Essa teoria, na origem, é uma analogia orgânica: o desenvolvimento da organização depende das características de sua forma orgânica e do ambiente que sustenta essas características” (CLEGG; HARDY, 1998 p. 43). Partindo para uma dimensão analítica no ponto de vista crítico do homem como ser, Foucault (1987) analisa em seu livro “Vigiar e punir”, as relações de “disciplina” com profundidade. Ou seja, enfoca o poder que é exercido sobre os corpos; “pessoas”. Embora tenhamos apresentadas várias concepções da emergência e o campo da teoria organizacional em sua origem chegando até as questões atuais, dentro do âmbito organizacional, observa-se que as considerações de Foucault (1987) com relação ao poder que é exercido sobre os “corpos” ainda é vista no cotidiano. A primeira vista é algo surreal, no entanto, trazendo para o olhar organizacional, quando o autor trabalha o controle da atividade dividido em cinco pontos, não é de se surpreender. Os pontos são: o horário, a elaboração temporal do ato, donde o corpo e o gesto postos em correlação, à articulação corpo-objeto e a utilização exaustiva. Sua crítica vai mais adiante quando afirma que “o corpo, do qual se requer que seja dócil até em suas mínimas operações, opõe e mostra as condições de funcionamento próprias a um organismo. O poder disciplinar tem por correlato uma individualidade não só analítica e celular, mas também natural e orgânica” (FOUCAULT, 1987 p. 141). Têm-se aí críticas que podem ser relacionadas com teorias no âmbito das organizações. Fica evidente que quando se observa, na era da revolução Industrial, os trabalhadores em sua grande maioria, “eram pagos por peças, antecipando-se em quase 150 anos às propostas tayloristas” (GARCIA, 1981 p. 43). Esta é uma ideia que vem corroborar com a perspectiva analítica filosófica de Foucault. Hobson (apud Garcia, 1981 p. 43) afirma que “o grande aumento na produção traz consigo, inexoravelmente, uma nova organização do trabalho no sistema de fábrica, com sua divisão de atividades e sua especialização de funções”. Fazendo uma análise das concepções de Foucault (1987) com relação às descrições tayloristas de Hobson (apud Garcia, 1981) e Garcia (1981), observam-se claramente visões semelhantes, embora em contextos distintos. Outro autor, há bastante tempo, corrobora com estas ideias. Owen (apud Garcia, 1981 p. 44), o autor mencionado, contrariando toda uma prática administrativa baseada na vigilância e disciplina, poderia muito bem ser considerado o pai da escola das relações humanas, um século antes das experiências de Elton Mayo. Neste contexto, o que temos de novo em termos de práticas organizacionais? O que há de fato de novo nos estudos organizacionais? O que o trabalhador pode esperar das empresas quando a pauta de muitas discussões é o achatamento salarial e a perda de benefícios? Algo a se pensar nos dias de hoje. Em relação aos artigos desta edição, o primeiro, intitulado “Arranjo Produtivo Local Da Piscicultura No Castanhão: Um Meio Para Disseminação De Práticas e Conhecimentos Sobre Sustentabilidade” de Adriana Teixeira Bastos, Cláudio César Torquato Rocha e Fátima Regina Ney Matos, caracterizaram os elementos que compõem o arranjo produtivo local da piscicultura do Açude Castanhão. Em seguida, Walisson Alan Correia Almeida, Patricia Guarnieri, Luciana Goulart, Raoni Fonseca Duarte e Gisela Demo realizaram uma revisão sistemática da produção nacional em relação a compras estratégicas no setor público. Esse artigo tem como título “Compras Estratégicas No Setor Público: Uma Revisão Sistemática Da Produção Nacional”. O artigo “Variações De Mensuração Por Tipos De Escalas De Verificação: Uma Análise Do Construto De Satisfação Discente” elaborado por Francisco José da Costa, Anna Carolina Rodrigues Orsini e Jailson Santana Carneiro, analisa, por medidas descritivas e testes estatísticos de comparação, os efeitos do uso de oito diferentes escalas de verificação, com formatos binários, de quatro, cinco e sete pontos. No quarto artigo intitulado “A Utilização De Objetivos De Desempenho De Operações Como Vetor Para Decisões De Investimentos”, Nilton Cezar Carraro e Carlos Roberto Camello Lima, propuseram uma forma alternativa para complementar esta análise a partir da utilização dos objetivos de desempenho de operações aliado a métodos qualitativos e quantitativos. O quinto artigo “Articulando A Transformative Consumer Research E A Comunicação Não-Violenta Em Situações De Insegurança Alimentar Em Grupos Vulneráveis” de Gustavo Tomaz de Almeida, Georgiana Luna Batinga, Bruno Medeiros Assimos e Marcelo de Rezende Pinto, propõem o tema comunicação não-violeta na lista de estudos na Transformative Consumer Research . Já o sexto artigo intitulado “O Consumo De Bens E Serviços De Marcas Patrocinadoras De Clubes De Futebol” foi desenvolvido por Edson Roberto Scharf e Gabriel da Silva Pacheco. Entrando em outra perspectiva de estudo, os autores analisam a probabilidade de que o recall da marca dos patrocinadores e determinados construtos de propensão à lembrança possam influenciar o consumo de bens e serviços relacionados a um clube de futebol. O sétimo artigo intitulado como “Orgulho De Ser Nordestino! Um Estudo Sobre Ethos Compartilhado Por Seguidores Em Uma Página Do Facebook” de Rafaela Sousa de Oliveira, Minelle Enéas da Silva e Brunno Fernandes da Silva Gaião, verificam como o ethos compartilhado dos seguidores da página do Facebook Nação Nordestina se manifesta, sob a perspectiva da Consumer Culture Theory (CCT), em especial falando de cultura de mercado. O último artigo desta edição, intitulado “O Programa Bolsa Família Na Comunidade Ponte Dos Carvalhos/Pe: Suas Implicações Políticas E O Que Está Sob O Manto Do Discurso” de Lizandra Kelly de Araújo Santana e Débora Coutinho Paschoal Dourado, discutem o programa bolsa família dentro do contexto que essas políticas redistributivas foram criadas, buscando entender quais são as funções políticas que o PBF exerce na comunidade Ponte dos Carvalhos, no município de Cabo de Santo Agostinho/PE. Referências CLEGG, S.; HARDY, C. Introdução: organização e estudos organizacionais. In: CLEGG, S.; C. HARDY, C.; NORD, W. (Org.). Handbook de estudos organizacionais. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 1998. FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987. GARCIA, F. C. Repensando o paradigma taylorista na ciência administrativa: um ensaio sobre os primórdios da racionalização do trabalho. Belo Horizonte: CAD (Tese para professor titular da FACE-UFMG), 1981. REED, M. Teorização organizacional: um campo historicamente contestado. In: CLEGG, S.; C. HARDY, C.; NORD, W. (Org.). Handbook de estudos organizacionais. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 1998. Nota Para finalizar este editorial, bem como o período em que passamos na editoria deste periódico (2015-2018), gostaríamos de dar as boas vindas aos novos editores da Revista Gestão.Org: os Professores Drs. Denis Silva da Silveira e Jairo Simião Dornelas, gestão 2019-2020. Sucesso aos professores e contem sempre conosco! Naveguem nesta edição procurando extrair o que há de melhor em cada trabalho publicado. Visite-nos sempre: http://www.revista.ufpe.br/gestaoorg/index.php/gestao/index Saudações, Francisco Vicente Sales Melo , Dr. Editor-Chefe Taciana de Barros Jerônimo, Dra. Editora-Associada

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