Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Da cordialidade do ódio à intrusão da ausência: a cortesia ingrata da inveja

2018; Volume: 14; Issue: 1 Linguagem: Português

10.22478/ufpb.2237-0900.2018v14n1.42382

ISSN

2237-0900

Autores

Hermano de França Rodrigues, Fabio Gustavo Romero Simeão,

Tópico(s)

Psychology and Mental Health

Resumo

Oriunda dos instintos destrutivos da pulsão de morte, a inveja é um dos primeiros e mais arcaicos afetos que despertam na alma do ser humano. Ao contrário do que o senso comum habitualmente preconiza, ela comporta um aspecto estruturante e sua importância para o desenvolvimento sadio da personalidade é significativa, uma vez que, na medida certa, permite ao sujeito reconhecer suas próprias lacunas, falhas e faltas. No entanto, se a inveja atingir proporções exacerbadas, assume uma feição mortífera e as relações com o objeto interno bom tornam-se fatalmente fragilizadas. Eis o caso de Ofélia, personagem do conto A Legião Estrangeira (1964), de Clarice Lispector – que desenha um dos quadros mais perturbadoramente belos da inveja em nossas letras. Engolfada num abismo de angústia e terror, Ofélia não consegue sustentar-se e, com efeito, a inveja comparece para esgarçar sua dor, que a leva a destruir tudo aquilo que lhe evoque sentimentos de insuficiência. Destarte, numa conexão entre os estudos psicanalíticos de base (pós)kleiniana e algumas considerações de caráter sócio-histórico, pretendemos analisar, na narrativa em foco, as faces mais abjetas que a inveja, em seu teor assaz virulento e passional, pode revelar, quando a dolorosa experiência de incompletude solapa toda expressão de amor e gratidão.

Referência(s)