Uma Transferência do Objetivo para a Subjetividade
2018; Volume: 14; Issue: 79 Linguagem: Português
ISSN
2236-1766
Autores Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoA formula da “Transferencia do Objetivo para a Subjetividade” surge com Charles Bally, um aluno de Saussure1. Bally utilizou essa formula em um ensaio sobre o estilo livre indireto no frances moderno (Le style indirect libre en francais moderne), o qual foi publicado em 1912, no jornal mensal germânico-românico (Germanisch-Romanischen Monatsschrift). Nesse ensaio, trata-se de um discurso indireto ou livre indireto. Quem havia experimentado pela primeira vez com o discurso livre indireto – assim como Franco Moretti em O burgues (2013) – foi o Romance de Formacao. Madame Bovary, de Flaubert, era, portanto, desde ja, o ponto final logico de um desenvolvimento, no qual a literatura europeia deixava para tras sua funcao didatica e substituia o contador de historias onisciente por uma longa passagem de discurso indireto livre2. Algo como, quando Emma Bovary, depois de sua primeira infidelidade, tranca-se em seu quarto e, imediatamente, como em “Taumel”, caminha em direcao ao espelho: Claro que, quando ela se deparou com seu rosto no espelho, ficou surpresa. Nunca antes estiveram seus olhos tao grandes, tao escuros, tao profundos. Ela havia transformado algo extremamente delicado em toda a sua fisionomia. Varias vezes disse ela: “Eu tenho um amor! um amor!” e ela se intoxicava com a ideia, de que lhe foi concedido um segundo desabrochar. Ela experimentaria a partir de agora finalmente o prazer do amor, essa sorte febril, na qual ela ja havia deixado de acreditar. Ela deparava-se com algo maravilhoso, e tudo prometia paixao, extase, euforia; a imensidao azul brilhante estava ao redor dela, o cume do sentimento brilhava perante seus pensamentos, e a vida habitual mostrava-se simplesmente muito distante, profundamente para baixo, na escuridao, ao pe dessa altura. Segundo Franco Moretti, o discurso indireto livre pertence ao estilo prosaico especifico do romance burgues. O estilo burgues de prosa e para Moretti nao apenas um indicador, mas tambem um fator, um tipo de acao, um “instrumento” linguistico (no sentido de Emile Beneviste), com cuja ajuda o mundo e a sociedade sao colocados em ordem4. A formula de Bally acerca da transferencia do objetivo para a subjetividade significa, entao, mais precisamente, a predominância de descricoes analiticas, impessoais e imparciais na prosa burguesa5. Justamente o discurso livre indireto possibilita um tipo de cruzamento de duas vias da fala, uma forma literaria que permite oscilar entre subjetividade e objetividade. Como Moretti tambem disse, a forma prosaica original do discurso livre indireto assegura, por um lado, a perspectiva da figura, mais especificamente nao esconde a subjetividade do protagonista6. Por outro lado, por causa de elementos proprios da fala suprapessoal, o protagonista seria submetido a uma “uniformizacao” e a uma padronizacao7. Como exemplo, Moretti refere-se a Emma, de Jane Austen, onde a “narrativen Verbtempi objetifica sua conduta e seus sentimentos e, como consequencia disso, de alguma forma a aliena de si mesma
Referência(s)