REVISTA COMPLETA. Ano 03. Número 01: Edição julho de 2005.

2019; Volume: 3; Issue: 1 Linguagem: Português

ISSN

1679-9887

Autores

Psicanálise e Barroco em Revista,

Tópico(s)

Linguistics and Language Studies

Resumo

Neste numero de nossa revista voces vao poder experimentar uma interessante viagem no tempo, na qual via certas torcoes, sempre tao caras ao estilo barroco, chegaremos as discussoes sobre a contemporaneidade abordadas quer pelo vies de sua festa tecnologica, quer pela designacao de Pos-Modernidade, quer pela focalizacao da crise na arte, ou ainda, atraves dos novos paradigmas cientificos. Os artigos que aqui selecionamos compoem um trajeto que abordara aspectos da historia da cultura, da arte e da mitologia, que passarao pela Antiguidade Grega para iluminar aspectos da cultura informacional contemporânea, destacados por Glaucia Dunley. Focalizara a visao de Freud e de Lacan acerca de Leonardo da Vinci, extremamente elucidativas para entendermos os aspectos fundamentais da sublimacao, via um belo trabalho de Beatriz Siqueira. Pontuara desdobramentos relativos ao advento do Modernismo nas artes, articulando-o ao barroco e a psicanalise, atraves do interessante texto de Carla Lacerda, Maryene de Paula e Nataly Cristino. Levantara questoes essenciais em torno da chamada Pos-Modernidade, tambem discutida a partir de certos elementos inaugurados pelo Barroco, num trabalho elaborado em conjunto por Alcimar Silva, Lys Alvarenga,Rita de Cassia M. de Souza e Vanessa Fassheber. Alcancara a tematica da crise na arte, ou da questao da morte da arte, formulada de maneira sagaz por Gisele Falbo, que discute as posicoes de Baumgart a luz das reflexoes de Lacan sobre a finalidade da arte, fazendo tambem um trajeto do primitivo ao contemporâneo. E aportara na discussao de Bianca Faveret, que apoiada no pensamento de Thomas Kuhn fara uma critica agucada aos novos paradigmas contemporâneos que se delineiam a partir de certas correntes das neurociencias, via por meio da qual se tenta inutilmente, e claro, objetivar a psicanalise. Assim a viagem sera longa, no sentido de indicar muitas paragens, porem curta, no sentido da facilidade de empreende-la, ja que a habilidade dos autores envolvidos, gozando de linguagem clara e precisa, nos conduzira, como poderao ver, rapidamente e sem grandes esforcos, ao fim desse trajeto. Intrigou-me, como sempre acontece, a relacao que podemos estabelecer entre esses artigos que reunem pesquisadores de orientacoes tao diversas. De alguma forma, todos parecem focalizar a dualidade entre paradigmas que orientam a producao de obras, artefatos e ideias no que veio a constituir-se como mundo Ocidental, que ora se revelam siderados pelo ceticismo, pela linearidade, pela retidao e racionalidade, e ora se entregam a uma certa relacao ao sagrado, ao espiral, ao curvilineo, a um saber que nao e redutivel a razao. Tais ideias nos trazem chaves preciosas para entendermos o dinamismo dos tempos, e o que, em cada um deles emerge prevalentemente, para melhor situarmos a emergencia e o papel da psicanalise na cultura atual. Sera na dimensao do paradoxo, ou seja, da possibilidade de afirmacao de convivencia das polaridades, que o trabalho de Glaucia Dunley A festa tecnologica da Contemporaneidade, abordara nossas proteses atuais, concebidas como todos os aparatos da cultura informacional que nos rodeia – teves, computadores, celulares, etc –, como reveladoras do paradoxo vivido pelo homem contemporâneo, polarizado entre a nostalgia do divino e a potencia de criacao. Numa perspectiva que aponta em nossos tempos, tanto a continuidade, quanto a separacao radical entre o humano e o divino, que bem se adequa a designacao que Freud faz do homem moderno como “homem com Deus com protese”. O trabalho seguinte intitula-se Leonardo da Vinci: fantasma, arte e sublimacao. Nele, Beatriz Siqueira destaca o comentario de Lacan que reafirma que a partir de Leonardo, arte e ciencia se misturam e o quadro passa a ter uma organizacao absolutamente nova na historia da arte. Isso porque Leonardo queria “fazer milagres”, numa exigencia de atingir uma forma ideal, o que o coloca numa pista que o conduz ao impossivel. Essa relacao ao impossivel e o que dirige sua genialidade e o conduz, na via da sublimacao, a um lugar onde a satisfacao e atingida por uma forma de satisfacao direta, ainda que substitutiva, da pulsao. Nele, o cientista nao se encontra dissociado de um senso de misterio sempre presente em sua estetica, dedos apontados nao se sabe para onde, sorrisos enigmaticos, conjugam clareza e ocultamento, fazendo de Leonardo um homem adiante de seu tempo. Num movimento de avancar no tempo, dando um passo largo, chegamos a articulacao barroco e modernismo. O barroco, de certa forma ja anunciado nas obras abertas de Leonardo, na dimensao na qual essas, nao encerram um sentido em si mesmas, mas conjugam-se com seu em torno, e com isso nao dao a ver tudo, reservando uma boa dose de enigma, sera explorado como precursor do moderno em sua expressao Modernista, num trabalho de Carla, Maryene e Nataly, intitulado Barroco e Modernismo: convergencias com a psicanalise. Por essa linha, as autoras estendem uma articulacao por mim apontada em trabalho em co-autoria com Marco Antonio Coutinho Jorge , onde exploramos a Semana de Artes Modernas de 1922 como um dos importantes portais para a entrada da psicanalise no Brasil. Elas destacam a valorizacao do pulsional, do ludico e da intensidade na cultura brasileira como favorecedores tanto do acolhimento do Barroco, quanto da psicanalise. Chegamos entao a vertente da Contemporaneidade designada Pos-Modernismo, e aqui tambem, explorada por sua relacao ao Barroco. Assim, Barroco e Pos-Modernidade: sensibilidades dualisticas e o tema ao qual Alcimar, Lys, Rita de Cassia e Vanessa se dedicam. Nele, os autores trazem elementos que marcam bem a diferenca entre a abordagem filosofica do moderno, inspirados na razao e na verdade, atraves da figura mitologica de Prometeu, simbolo do homem moderno em sua aspiracao de apoderar-se da verdade, e a concepcao que marcara o pos-moderno, representado pela figura de Hermes, deus mensageiro e aproximador, simbolo do intercâmbio e da composicao entre os contrarios que se desatrela da fascinacao por um verdade unica. E, por diversas vertentes, com destaque para a discussao sobre a tematica da morte, tracam essa interlocucao entre o Barroco e a Pos-Modernidade. Quanto a essa mesma Pos-Modernidade, Gisele Falbo se interroga: Morte da arte ou outra-coisa? E confronta, como adiantei acima, a posicao de Baumgart, que reflete sobre a funcao social da arte, como cambiavel atraves dos tempos, com a posicao de Lacan que questiona, mais especificamente, a finalidade da arte para o humano, enquanto algo que se mantem constante ao longo do tempo, nao se confundindo com sua funcao social, que muda conforme os mais variados interesses. Nesse sentido, a autora traca um fio que liga a pintura rupestre a arte contemporânea. E exatamente questiona a morte da arte quando destaca as consequencias da ciencia invadindo a arte. Ela verifica que certas expressoes da dita arte contemporânea, na qual, como resultado de um crescente dominio da visao, atraves do que veio se desenvolvendo, desde os Quatrocentos italiano no campo da perspectiva geometral, que tem relacao com a instituicao do sujeito cartesiano, se verifica o advento da ciencia invadindo mais e mais a arte, marcando uma crescente desvinculacao desta com o sagrado, que de certa forma, preservava o misterio do vazio sobre o qual gravitamos e que arte sublimava. Entretanto, uma serie de artificios e invencoes, dos quais o Barroco foi um deles, a arte retorna a sua finalidade original. Essa mesma dimensao de objetividade aportada pela ciencia e a discussao que norteara o texto de Bianca Faveret, no artigo intitulado A Contemporaneidade e seus novos paradigmas: questoes acerca da psicanalise e das neurociencias. Nele a autora desenvolve reflexoes acerca da problematica articulacao entre a neurociencia e a psicanalise, na medida em que, pelo menos na perspectiva da International Neuro-Psychoanalysis Society, o que e visado e uma integracao entre esses campos com a intencao absolutamente suspeita, de proporcionar meios de validacao objetiva para os construtos psicanaliticos, como se fosse isso que faltasse a psicanalise. Bianca ressalta que esses pesquisadores, siderados pela perspectiva objetivista de ciencia que busca a correspondencia entre a verdade e a realidade, parecem nao se aperceberem de toda a dimensao interpretativa condicionada pelo contexto socio-cultural, que participam da atividade de pesquisa, vindo a constituir-se como uma elaboracao desse mesmo contexto. Para melhor explicitar essa redefinicao contemporânea dos paradigmas cientificos, a autora se apoia, sobretudo, nas teorias de Thomas Kuhn, e sustenta, com Freud, a improdutividade de se tentar subsumir a psicanalise a qualquer outro campo. Bianca valoriza a interlocucao, mas interlocucao nao e subserviencia. Ha ai uma vasta distância. Assim finalizamos essa apresentacao das reflexoes propostas nesse numero cinco de nossa revista, que pode ser tomado, numa certa perspectiva, como um leque de possibilidades para se focalizar os desdobramentos da concepcao de ciencia, que trouxe implicacoes diversas, para o campo das artes, do pensamento e da cultura de uma forma geral nas suas expressoes contemporâneas. Espero que a fecundidade destes textos lhes traga tanta satisfacao quanto a que tive na leitura dos mesmos. Por Denise Maurano Mello

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