REVISTA COMPLETA. Ano 06. Número 01: Edição julho de 2008.
2019; Volume: 6; Issue: 1 Linguagem: Português
ISSN
1679-9887
AutoresPsicanálise e Barroco em Revista,
Tópico(s)Psychology and Mental Health
ResumoPsicanalise & Barroco em revista chega ao seu sexto ano de existencia lancando seu primeiro numero do sexto volume em alto estilo: trata-se de um especial, resultado dos efeitos do evento: 1o. Coloquio Psicanalise, Arte e Barroco que aconteceu na Universidade Federal de Sao Joao Del Rei, dentro do Programa do 3o. Simposio Ciencia e Arte, realizado de 8 a 10 de novembro de 2007. Este evento que foi organizado em parceria com a Fundacao Oswaldo Cruz e obteve o apoio do CNPq e da FAPEMIG, foi coordenado por Jose Savio Theodoro de Oliveira que o resume no pequeno texto anexo a este editorial intitulado Interlocucoes entre o barroco e a psicanalise: multiplos olhares. Nosso procedimento para este Especial foi o de convidar todos que apresentaram trabalhos no evento para encaminharem artigos de modo a serem submetidos ao nosso Conselho Editorial e Conselho de Pareceristas. Este numero portanto, e composto dos artigos que foram selecionados a partir desse procedimento. Ele resultou em cinco artigos e dois ensaios, um dos quais e apresentacao de uma primeira parte de uma pequena Antologia de Poemas Neobarrocos, inseridos em nossa secao literaria, que publicaremos em duas etapas, uma neste numero e outra no proximo. Assim, se nossa revista tem por habito mesclar tematicas da psicanalise a questoes relativas a arte e a cultura em geral, no presente numero, trabalhamos diretamente com a interface psicanalise e barroco. Por isso, nada melhor do que comecarmos pelo belissimo artigo de Maria da Penha Simoes que funcionara aqui como uma boa apresentacao, nao apenas do barroco, mas do modo pelo qual esse estilo artistico, por seu modo de proceder, pode lancar luz a diversos conceitos psicanaliticos, facilitando-lhes a transmissao. Para isso, a autora enfatiza a contextualizacao historica do barroco, tratando-o como efeito de um periodo de profundas transformacoes, marcadas pelos achados de Copernico, ainda no seculo XVI, Kepler, Newton, Descartes, Galileu, no seculo XVII, que acabaram por instaurar uma nova concepcao do universo, na qual o homem foi descentrado da posicao ideal que ocupava ate entao, tendo que reformular nao apenas seu universo estetico como tambem seu proceder etico, sua relacao com a vida e com a morte. Diante de tantas transformacoes a autora norteada prioritariamente por Freud, Lacan, Sarduy e Benjamin, faz uma analise da melancolia, elemento com o qual o barroco e identificado, como um dos polos dos excessos por ele veiculado. Em sequencia a tematica dos excessos encontramos o oportuno artigo de Alexandre Simoes, Narcisismo e Barroco: reflexoes sobre o corpo, o sujeito e o excesso, no qual o autor, focalizando o aspecto intemporal do barroco, visa articula-lo com dimensoes dos processos de subjetivacao que vao mais alem do Pai e dos Ideais. Para tal, trabalha o conceito freudiano de narcisismo em sua relacao ao corpo - afinal como nos alerta Freud, o eu e acima de tudo, um eu corporal, - indicando o corpo como uma maquinaria de gozo, proposta de Lacan que remete ao barroco em sua forma propria de evocar gozo. Nesta perspectiva o autor se pergunta: que destino dar aos excessos? Questao mais do que pertinente em tempos como os nossos. Jose Savio Theodoro de Oliveira, em seu trabalho O barroco como ferramenta metodologica, tocara nessa questao do mundo contemporâneo, ao articular o aspecto no qual uma etica depreendida da estetica barroca – etica esta afeita aquela sistematizada por Lacan como etica da psicanalise –, pode funcionar como elemento critico ao criterio de acumulacao de bens, pregado pelo capitalismo desenfreado presente na contemporaneidade. A questao da etica sera retomada no artigo de Barbara Maria Brandao Guatimosim O belo e o sublime, no qual a autora trabalha a ideia da existencia de um tragico estrutural na psicanalise, norteado por uma etica impura e uma estetica barroca. Vale-se dos conceitos de belo e sublime em Kant, para desenvolver questoes relativas ao desejo e a sublimacao tal como se encontram na proposta lacaniana, depreendendo dai consequencias para a clinica psicanalitica e para a formacao dos analistas em seu contexto institucional. Ja o artigo A psicanalise e o tempo de Julio Eduardo de Castro, trabalha o conceito de sujeito pressupondo nao somente sua localizacao no espaco da cultura, mas tambem em sua referencia ao tempo que se estabelece a partir de um marco inaugural. Entretanto, o inconsciente, ignora a passagem do tempo, e o desejo inconsciente enquanto indestrutivel, fica localizado fora do tempo. O autor faz uma analise das referencias ao tempo na obra de Freud e Lacan e conclui que, ainda que o inconsciente desconheca o tempo, este nao deixa de ecoar nos processos da recordacao encobridora, da repeticao, da fixacao, da regressao, do retorno do recalcado, etc. Manejar o tempo em sua relacao com a transferencia e um trabalho privilegiado pela perspectiva lacaniana que indo alem de uma logica cronometrica, fundamenta o corte da sessao na emergencia de um tempo logico. Por esse vies o autor se remete ao movimento barroco que, na historia da arte, impos um corte, uma ruptura na arte classica, marcando um tempo que ainda nao esgotou seus efeitos sobre o sujeito. Monica Martins de Godoy Fonseca na composicao de um ensaio intitulado De corpo e alma, faz suas pontuacoes sobre as caracteristicas do barroco que estao presentes no pensamento e pratica analitica, sublinhando, nao um corte, mas uma quebra operada por Lacan atraves de seu estilo, no modo classico de escrever de Freud. O psicanalista frances nos convida a perceber que o sujeito possui um funcionamento baseado em sua estrutura de gozo. Assim, a questao do inconsciente aparece enfatizando, nao propriamente o pensamento e suas articulacoes, mas o fato de que a fala implica gozo, e diante dele nao se queira mais saber de coisa alguma. Por tocar nessas verdades, Lacan, tal qual o barroco, paga seu preco, um dos quais e a expulsao da tradicional International Psychoanalytic Association. Ao ensaio de Monica segue-se o trabalho do poeta Claudio Daniel Releituras do barroco na modernidade, acompanhado de uma antologia neobarroca com diversos poetas da America Latina, que serao publicados neste e no proximo numero de nossa revista. Neste trabalho o autor esclarece-nos a concepcao de neobarroco que recortou sobretudo de escritores de lingua latina e, o assinala como movimento critico a grandiloquencia europeia. Para sublinhar seu valor, alerta que este “e o espelho alucinado, mutavel, ambiguo, do caos labirintico, insano e cada vez mais perigoso em que estamos inseridos”. Os poemas, de estetica neobarroca, sao apresentados em lingua castelhana com suas respectivas traducoes e sao seguidos de uma breve biografia de cada um dos poetas eleitos. Deixamos portanto, nosso leitor, neste ponto, ao sabor dessa Antologia da poesia neobarroca na America Latina, esperando que faca um bom proveito de tudo que aqui encontrarao. Por Denise Maurano Mello
Referência(s)