
ANÁLISE DO GENE CCR5 EM PACIENTES INFECTADOS PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV)
2015; Frederico Kauffmann Barbosa; Volume: 12; Issue: 26 Linguagem: Português
ISSN
1807-8850
AutoresPriscila Farias Tempaku, Dercy José de Sá Filho,
Tópico(s)vaccines and immunoinformatics approaches
ResumoA AIDS e definida como uma doenca causada pela infeccao com o virus da imunodeficiencia humana (HIV), sendo caracterizada pela imunossupressao profunda associada a infeccoes oportunistas, neoplasias malignas e degeneracao do sistema nervoso central (ABBAS; LICHTMAN, 2005). O HIV infecta celulas que expressam o receptor celular de superficie CD4 (DOUEK et al, 2002). Para a infeccao, ainda e fundamental a interacao das glicoproteinas do HIV com os co-receptores CCR5 ou CXCR4 (GROTTO; PARDINI, 2006). O receptor CC-quimiocina 5 (CCR5) e um receptor de quimiocinas e possui uma estrutura com sete dominios transmembranares α-helicoidais, acoplados a proteina G de ligacao ao trifosfato de guanosina (GTP). Liga-se naturalmente a quimiocinas, macrofagos inflamatorios proteina 1a (MIP-1a), macrofagos inflamatorios proteina 1b (MIP-1b) e regulamenta a ativacao de celulas T normais expressas e secretadas (RANTES) (BARMANIA; PEPPER, 2013).Alem disso, tambem e ligante para as glicoproteinas do envelope do HIV (SAMSON et al., 1996). E designado pelo simbolo genico CMKBR5 e seu gene estrutural foi mapeado no cromossomo humano na posicao 21 do braco curto do cromossomo 3 (3p21) (DEAN et al., 1996). Liu et al. (1996) primeiramente observaram que alguns individuos expostos ao HIV-1 nao eram infectados, alem disso suas celulas T CD4+ eram altamente resistentes a entrada do virus in vitro. Estudos subsequentes demonstraram que esta resistencia poderia ser causada por uma mutacao no gene que codifica o CCR5. Uma delecao de 32 pares de bases, conhecida como mutacao CCR5 delta 32, ou CCR5Δ32. A delecao causa um frameshift , ou seja, uma mudanca na fase de leitura durante a traducao, afetando as ultimas tres regioes transmembranares do CCR5, mais especificamente no segundo loop extracelular onde ocorre o sitio de ligacao da proteina G responsavel pela transducao de sinal celular. O alelo mutante contem 215 aminoacidos, enquanto o alelo selvagem possui 352 aminoacidos, o que gera entao uma proteina truncada que nao pode ser detectada na superficie celular. (DEAN et al., 1996; SAMSON et al., 1996; LIU et al., 1996). Estudos demonstram que o alelo delta 32 tenha surgido de uma mutacao simples e que este evento tenha uma origem recente no nordeste da Europa (LIBERT et al., 1998), portanto a frequencia na populacao caucasiana encontra-se mais elevada do que em outras etnias, girando em torno de 10%. Esta mutacao tem caracteristica autossomica recessiva, portanto os individuos heterozigotos para a CCR5 delta 32 ainda conseguem expressar, de maneira diminuida, os receptores, ja individuos em homozigose para a mutacao, apresentam ausencia do receptor CCR5 (SAMSON et al., 1996). Estes fatos constituem uma evidencia da capacidade duradoura do controle do virus. Uma das hipoteses para que um individuo tenha o perfil de progressor lento ou controlador de elite e a mutacao CCR5 delta 32, pois, e essencial no momento da interacao virus-celula hospedeira que haja ligacao com este co-receptor, portanto, em sua ausencia ou baixa expressao, a entrada do virus para o meio intracelular fica prejudicada (CARRINGTON et al., 1999). No Brasil a frequencia da heterozigose varia de 6.8% a 14.2% na populacao caucasiana; de 1% a 6.4% na populacao descendente de africanos e de 0.4% a 2.2% na populacao indigena (BOLDT et al., 2009; VARGAS et al., 2006; CARVALHO et al., 2004; CARVALHARES et al., 2005). Primariamente, o objetivo do presente estudo foi caracterizar atraves da tecnica da Reacao em Cadeia de Polimerase (PCR) a homozigose ou heterozigose do gene CCR5 em paciente HIV positivos recem-diagnosticados. Como objetivos secundarios, foi realizada a analise da relacao entre a presenca da mutacao CCR5 delta 32 e as origens etnicas, bem como a analise dos dados laboratoriais (contagem de CD4, CD8 e carga viral). A amostragem consistiu em 16 pacientes atendidos na Unidade Complexa Hospital Dia – Willian Rocha, Guaruja. O DNA foi extraido a partir das celulas mononucleares de sangue periferico. Apos a extracao, realizou-se a PCR e o produto da reacao foi analisado a partir de eletroforese em gel de agarose (3%) (MUNERATO et al., 2003). Complementarmente, foram coletados os prontuarios dos pacientes contendo os dados laboratoriais e epidemiologicos. Desta forma, observou-se a presenca da delecao CCR5 delta 32 em uma frequencia de 25% do total da nossa amostragem, sendo caracterizados como heterozigotos, entretanto nenhum homozigoto para a delecao foi detectado. Nao houve correlacao entre as origens etnicas e a presenca da mutacao. Foi realizado o teste estatistico T de student comparando as medias de CD4, CD8 e carga viral dos pacientes heterozigotos para a mutacao CCR5 delta 32 em relacao aos homozigotos para o alelo selvagem. Nao foi observada diferenca significativa. Podemos concluir que a tecnica de PCR utilizada obteve resultados satisfatorios para a deteccao da mutacao CCR5 delta 32. A frequencia observada nesta amostragem foi maior do que a encontrada em outros trabalhos com amostras brasileiras; o que pode estar relacionado com a miscigenacao da populacao estudada.
Referência(s)