Artigo Acesso aberto Revisado por pares

“Conhecimento, ignorância, mistério”

2019; FUNDAÇÃO CESGRANRIO; Volume: 27; Issue: 105 Linguagem: Português

10.1590/s0104-403620190027001051

ISSN

1809-4465

Autores

Cândido Alberto Gomes,

Tópico(s)

Psychology and Mental Health

Resumo

O que nos reserva o numero 105 desta revista? Uma multiplicidade de temas e abordagens teoricas e metodologicas, em numero bem internacionalizado, a lembrar a riqueza da sociodiversidade, termo cunhado por Morin (2018). O mesmo flosofo contemplou-nos com um testamento cientifco e poetico em vida, cujo titulo ousamos atribuir a este editorial. Em torno de todas as contribuicoes intelectuais, estabelece-se o ciclo interminavel do conhecimento, ignorância e misterio. Declara o autor que, paradoxalmente, descobrimos o desconhecido no interior do conhecido e do cognoscente. Quanto mais conhecemos, como na elaboracao e leitura dos artigos deste numero, mais nos deparamos com interrogacoes, com a nebulosidade do que nao se conhece. Assim, conclui-se, quem pensa saber muito, pode embriagar-se com a esperada imensidao, quando, de fato, ignoramos muito mais e se nos impoem densos misterios a desvendar. Somos graos de poeira cosmica diante do infnito, cujo restrito conhecimento nos recomenda a humildade, em vez das vaidades e competicoes, academicas e nao academicas. Nesta relacao circular do avanco do conhecimento, das descobertas de limites e da percepcao do misterio, escreve Morin, depara-se o misterio. Ou tudo o que se elucida (palavra originada de luz) se torna obscuro, sem cessar de elucidar-se. Neste e no ano passado, alem de Morin, pelos menos dois destacados filosofos franceses nos deixaram testamentos em forma de opusculos: Serres (2019) e D’Ormesson (2018). Com a sua fe no futuro, Serres escreve sobre a moral: contrapoe a obediencia absoluta a desobediencia. Como homem que comeu a maca, confessa que desobedeceu (e obedeceu) durante toda a sua vida. Se nao o fizesse, supomos, nao teria aberto caminhos novos. “Que e a cultura? O que permite ao homem de cultura nao esmagar ninguem sob o peso da sua cultura” (SERRES, 2019, p. 27). Por sua vez, D’Ormesson (2018), agnostico, trata da importância da ciencia. Nos nossos universo e historia, no proprio corpo, tudo o que sabemos ao certo e a ciencia que nos ensina. A ciencia reina e nada a detera, entretanto, ela nada pode dizer sobre o que mais nos importa, talvez mais que o proprio amor: que se passa apos a morte? Qual o nosso destino na eternidade? Se o universo nasceu com o big bang, que havia antes? Por que o big bang? O laco entre as duas pontas, o principio e o fm, nao se ata, ambas mergulham nas trevas do desconhecimento. Temas tao diversos nos colocam diante do brilho e das limitacoes da ciencia, retornando a humildade do ciclo morineano de conhecer, ignorar e deparar-se com o misterio. Quanto mais espreitamos, mais estrelas distantes cintilam. Assim, toda vaidade e va, todo radicalismo e esteril, toda singularidade e pobre. Que estas reflexoes tem a ver com os artigos deste numero? Todos encerram grandes talentos, utilizados para desvendar misterios, a partir dos quais se desdobram outros, a conhecer. Em suas diversas nesgas de observacao, sucedem-se com foco em diversos, aspectos da realidade internacional.

Referência(s)