Gravação de telefonemas de censores
2019; Coimbra University Press; Volume: 19; Issue: 35 Linguagem: Português
10.14195/2183-5462_35_3
ISSN2183-5462
Autores Tópico(s)Historical and Political Studies
ResumoDescobertas alguns dias após a revolução de 25 de abril na Comissão de Censura do Porto/Exame Prévio, as gravações de telefonemas de censores de imprensa foram dadas a conhecer apenas por um jornal diário, República, que as considerou “preciosas gravações”, um documento único nas ditaduras ibéricas, mas mantiveram-se praticamente desconhecidas até serem colocadas on line em 2017 pelo Arquivo da RTP. Neste artigo analisa-se o conteúdo das gravações, identificando o momento da sua produção, entre fevereiro e abril de 1974, bem como os intervenientes nas comissões de censura em Lisboa e Porto. Acompanhamos os vários momentos do registo sonoro desde a rotina do funcionamento da censura no mês de fevereiro de 1974, ao sobressalto provocado pela Revolução no dia 25 de abril em que a gravação ilustra por forma impressiva as últimas horas de um aparelho da censura velho de quatro décadas.Focando o funcionamento da Comissão de Censura do Porto e o seu pessoal político situa-se a decisão de instalação de gravadores nas comissões do Porto (1970) e Coimbra (1971), na necessidade de controlar a comunicação entre a censura e os jornais, e a comunicação interna entre comissões, nas três cidades em que eram publicados os principais diários do país.O registo magnético surge assim no marcelismo como mecanismo adicional de controlo num momento em que o velho modelo de censura prévia tinha dificuldade em dar resposta aos novos desafios da imprensa. No caso do Porto o posicionamento político dos três jornais históricos face ao regime caracterizou-se, sobretudo no pós-guerra, por um distanciamento que, desde a década de 60 levou a um escrutínio mais rigoroso por parte da censura. São igualmente apreciados os problemas internos da Comissão do Porto, as diferenças de critérios entre as comissões de Lisboa e do Porto e o risco de deslizes na leitura de provas sobretudo em áreas sensíveis para o regime como era a guerra colonial.
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