Artigo Produção Nacional Revisado por pares

O sexual no corpo da língua

2019; UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE; Volume: 24; Issue: 49 Linguagem: Português

10.22409/gragoata.v24i49.34094

ISSN

2358-4114

Autores

Paulo Sérgio de Souza,

Tópico(s)

Hume's philosophy and hair distribution

Resumo

No fragmento 19 dos Manuscritos de Harvard, Ferdinand de Saussure afirma que a diferença, uma vez que admite graus, consiste num termo incômodo. Nesse sentido, semelhança e diferença encontram-se emaranhadas uma à outra, confundindo os seus matizes e não escapando do fato de que, embora pareça inevitável perceber a possibilidade do discernível, também é custoso saber, estruturalmente, entre que elementos será preciso distinguir, e em que termos. Se a anatomia como destino (FREUD, 1912; 1924) se mostra mais matizada do que se gostaria – também ela admitindo seus graus –, tampouco se consegue negar categoricamente a suspeita de que as diferenças que aí se reconhecem são, antes mesmo, instituídas por uma nomeação; uma nomeação que, uma vez posta, marca os limites dos seus domínios muito mais do que simplesmente os reconhece. Se a diferença anatômica não mitiga a impossibilidade derradeira de conjugação entre os seres falantes, como pensar o trânsito/tradução entre os corpos (suas mútuas tentativas de acesso) e onde situar as diferenças que lhes cabem? Para elaborar uma resposta, este trabalho parte da hipótese de que convém desenvolver a reflexão acerca da diferença sexual alguns palmos acima da linha da cintura, recorrendo a outro órgão, a única entranha que o corpo humano deixa à vista; uma víscera que, não por acaso, curto-circuitando o dentro e o fora do corpo que ela habita, se consagra na talvez mais célebre – e também prosaica – das catacreses: a língua.

Referência(s)