Artigo Acesso aberto

Uma «vaga populista na Europa»?

2019; Instituto Português de Relações Internacionais; Linguagem: Português

10.23906/ri2019.62a03

ISSN

2183-0436

Autores

Jean-Yves Camus,

Tópico(s)

Populism, Right-Wing Movements

Resumo

mão.As características ideológicas que, segundo Mudde, permitiam definir um partido como sendo de extrema--direita eram: o nacionalismo; o racismo; a xenofobia; a oposição à democracia; e a vontade de um Estado forte 1 .Ora, em 2019, esta definição sintética coloca um problema duplo.Uma parte dos partidos citados, e de muitos outros, defende-se acerrimamente da acusação de pertença à extrema-direita, que continua vista como uma categoria infame por evocar, na psique coletiva, o fascismo e o nazismo 2 .E, mesmo que o investigador não tenha de se conformar com o vocabulário que estes partidos utilizam para se autodefinirem (geralmente: «patriotas» ou «direita nacional»), necessita de considerar realidades incontestáveis.Entre elas está o facto de quase todos os partidos de «extrema-direita» participarem em eleições, de alguns ganharem assentos em assembleias deliberativas, do nível municipal ao nacional, e de possivelmente participarem no governo sem que a forma democrática do Estado tenha sido substituída por uma ditadura (veja-se o caso da Áustria).Há ainda a questão do racismo, no sentido da hierarquização das raças e preconização do estabelecimento de discriminações com base na aparência racial ou étnica, que se transformou, para se tornar cultural e diferencialista: o etnodiferencialismo 3 postula, não a existência de uma raça branca superior, mas a existência de um referencial de valores específico a cada etnia, a cada cultura, que somente pode prosperar verdadeiramente no território de origem respetivo, e sem mistura com os outros, contrariamente ao que quer a sociedade multicultural, que corre o risco da perda de identidade por mestiçagem e da guerra civil pelo confronto de valores antagonistas.Esta forma de pensar não será, certamente, conforme ao ideal que, desde o iluminismo, postula a universalidade do Homem, mas já não é apanágio da extrema-direita: o Fidez húngaro do primeiro-ministro Viktor Orbán, membro do Partido Popular Europeu (ppe), e o partido conservador polaco Lei e Justiça, no poder, têm esta opinião, como a Nova Aliança Flamenga (nva) do presidente da câmara de Antuérpia, Bart De Wever.As direitas antes consideradas extremas pela filiação nas ideologias autoritárias ou fascistas são agora bem menos importantes, em termos de sucesso eleitoral, que as direitas populistas radicais.Cas Mudde indica que a diferença entre as duas reside na relação com a norma democrática.Enquanto a extrema-direita defende um total antagonismo aos valores que fazem o consenso nas democracias, as direitas populistas radicais apresentam-se como verdadeiras defensoras destas contra um seu suposto desvirtuamento pelas «elites» em detrimento do povo, que afirmam representar.A exigência da substituição da democracia representativa pela democracia direta pretende encarnar uma soberania popular verdadeira e total; a oposição à integração europeia, a afirmação da soberania nacional, sobre a qual se construíram os estados European integration.The press echoed these efforts of achieving a union of all populist and Eurosceptic right-wing parties in one parliamentarian bloc.However, the end result was not what was expected: the extreme--right is marginalized and the radical right, whose program focuses on nation survival, immigration, and identity, is still fragmented in the new European Parliament.

Referência(s)