O mito do sábio eremita. A oposição campo / cidade através da Literatura Espanhola

2019; Volume: 1; Issue: 24 Linguagem: Português

10.19134/eutomia-v1i24p193

ISSN

1982-6850

Autores

José Alberto Miranda Poza, Cristina Bongestab,

Tópico(s)

Literature, Culture, and Criticism

Resumo

Neste ensaio, debrucamo-nos no mito do sabio eremita, entendendo por tal a figura de uma personagem que se situa voluntariamente a margem da sociedade, em cujo seio nao encontra lugar. O topico enlaca com uma longa tradicao classica literaria (Horacio, Juvenal) em termos de oposicao campo / cidade que, por sua vez, oferece desdobramentos como o locus amoenus e sua variante, o hortus amoenus. e o beatus ille, em grande parte vinculado a estetica religiosa – aqui entendida como oposicao mundo real / mundo divino. Falamos, entao, dos Milagros de Berceo ou do Viaje al Purgatorio na versao em catalao de Perellos e na castelhana de Montalban. O Renascimento italiano (Petrarca, Sannazaro) recuperou os topicos classicos, replicados em autores espanhois como Fray Luis na sua Oda a la vida retirada (poesia) ou por Guevara (prosa) em Menosprecio de Corte y alabanza de aldea. Nao escapam ao elogio da vida retirada as manifestacoes da poesia bucolica de Garcilaso com suas Eglogas, nem a contribuicao a discussao que proporcionam mistica e ascetica, em especial, na figura de Teresa de Avila, o que nos conduz a mergulhar na influencia de Agostinho de Hipona: “noli foras ire...” Cervantes e seu Dom Quixote nao sao alheios a oposicao, e o motivo da cova, que recolhem textos como o de Perellos, reaparece no famoso episodio da Cueva de Montesinos. Calderon, no drama La vida es sueno inclui referencias ao sabio pobre e afastado numa famosa passagem. O seculo XVIII recupera o topico da vida do campo, mas desligado de qualquer idealismo, atraves da obra de Mor de Fuentes La Serafina, que desenvolve a realidade rude do campo – em especial, dos camponeses – em grande parte antecipada nos dialogos de Quixote e Sancho relacionados com a figura de Dulcinea. Logico que Cadalso, nas suas Cartas Marruecas e nas Noches lugubres pregue, imbuido no espirito do Iluminismo, pelo intelectual ao servico da sociedade como bom cidadao, e nao afastado dela. No seculo XIX, epoca da eclosao da burguesia como classe social por excelencia, bem como do romance, Realismo (atraves das influencias de Stheldal, Flaubert e Balzac) e Naturalismo (Zola) ficam no foco, respectivamente, de cidade e campo, sendo que na Espanha o Naturalismo teve um cultivo menor. Contudo, fala-se de textos misturados, em parte realistas, em parte naturalistas (Fortunata y Jacinta, de Galdos; La madre Naturaleza, de Pardo Bazan; La Regenta, de Clarin). Achamos, enfim, no romance – primeiro no formato de filme – de Carlos Saura, Elisa, vida mia (reproducao dos versos da Egloga I de Garcilaso) a perfeita sintese do percurso da oposicao campo / cidade na figura da personagem que protagoniza a obra, Luis, professor, intelectual, escritor, que abandona a cidade de Madri e sua familia para ir a viver no campo, num vilarejo, e tentar realizar seus sonhos como escritor e satisfazer suas cogitacoes a proposito do sentido da vida.

Referência(s)
Altmetric
PlumX