Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

In media barbaria, ille ego romanus vates: etnografia e autoridade nos Tristia de Ovídio

2020; Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC); Volume: 33; Issue: 1 Linguagem: Português

10.24277/classica.v33i1.832

ISSN

2176-6436

Autores

Cecilia Marcela Ugartemendía,

Tópico(s)

Classical Antiquity Studies

Resumo

Durante seu exílio em Tomos, Ovídio escuda-se na ideia de declínio poético e linguístico, causado pela hostilidade do entorno. A adversidade do lugar em que deve cumprir a relegatio é o argumento para justificar a queda na qualidade de sua produção poética. Neste trabalho, propomos analisar aspectos da descrição etnográfica e geográfica apresentada por Ovídio nos Tristia 3.10 e 5.7, com o objetivo de adicionar mais elementos à longa tradição de estudos dedicados a demonstrar que a ideia de declínio é mais um artificio retórico na construção da persona relegata. Para tanto, a discussão será delimitada pela construção do eu poético como autoridade no tratamento do sofrimento do exílio. Em primeiro lugar, são analisados trechos de Tr. 3.10, dedicados à descrição etnográfica e geográfica da Cítia, na qual se destaca o manejo da sintaxe mimética. Em seguida, oferecemos diferentes observações sobre a já muito comentada intertextualidade entre esta epístola e a descrição da Cítia oferecida por Vírgilio em Geórgicas 3.349-83, destacando que as diferenças entre uma e outra descrição atendem à construção da autoridade de Ovídio como exilado, inclusive ao se arrogar o “direito de corrigir” o poeta anterior. Em segundo lugar, buscamos comprovar que, em Tr. 5.7, Ovídio relegatus continua a se construir como autoridade, reivindicando, no meio de sua aparente barbarização, seu lugar como grande Romanus vates.

Referência(s)