Artigo Acesso aberto Produção Nacional

O LUGAR DE FALA DA MULHER NEGRA EM OLHOS D’ÁGUA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO

2020; Volume: 16; Issue: 38 Linguagem: Português

10.48075/rt.v16i38.24210

ISSN

1981-4674

Autores

Roselene Cardoso Araújo, Paulo Antônio VIEIRA,

Tópico(s)

Linguistics and Education Research

Resumo

Este artigo desenvolve análise do livro Olhos d’Água, de Conceição Evaristo. A leitura dos contos da autora é realizada tendo em vista as representações das imagens relacionadas à mulher afro-brasileira. A pesquisa parte da perspectiva de que Evaristo empreende a descolonização da mulher negra ao situá-la em um espaço discursivo rumo à libertação da herança colonialista. É marca presente na produção da escritora uma postura em que prevalece o resgate do ser social e em que se entrecruzam ou se confundem realidade e ficção, originando o que a autora denominou de “escrevivência”. Nesse processo, a autora coloca em evidência, no centro das narrativas, figuras da sociedade que se localizam no gueto, no espaço ignorado e se vinculam a uma cadeia hierárquica social na qual, no topo, está o homem branco e, na sequência, a mulher branca, subsegue o homem negro e, por último, a mulher negra que, ao se diferenciar da branca e do homem, torna-se “o outro do outro”, uma subcategoria duplamente subalternizada. No estudo, encontra-se sob destaque a conquista da voz e do reconhecimento desse lugar de fala, pois a figura subalternizada encontra autorrealização, o que não ocorre numa sociedade colonialista. O suporte teórico que dirige as análises reside, principalmente, nas obras de autoras que debatem os conceitos de lugar de fala, feminismo negro, literatura de autoria feminina e a intersecção gênero, etnia e classe social, como Djamila Ribeiro (2019), Luiza Lobo (1993), Grada Kilomba (2019), Gayatri C. Spivak (2010), dentre outras.ReferênciasALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Prefácio. In: SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno fala? Trad. Sandra Regina Goulart Almeida et al. Belo Horizonte: UFMG, 2010.ARAUJO, Roselene Cardoso. As imagens da mulher afro-brasileira em Olhos d’água de Conceição Evaristo. 2020. 83f. Dissertação (Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia, 2020.BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 2 v. Trad. Sério Milliet. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.BRANCO, Lucia Castello; BRANDÃO, Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro. Lamparina, 2004.EVARISTO, Conceição. Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: MOREIRA, Nadilza; SCHNEIDER, Liane (Orgs.). Mulheres no mundo: etnia, marginalidade, diáspora. João Pessoa: Ideia: Editora Universitária - UFPB, 2005, p. 201-212.______. Ponciá Vicêncio. 3.Ed. Rio de Janeiro. Pallas; 2016.______. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.______. Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.______. Nossa fala estilhaça a máscara do silêncio. In: Carta Capital. 13 de maio de 2017. Disponível em: www.cartacapital.com.br/sociedade/conceiçao-evaristo-201cnossa-fala-estilhaça-a-mascara-do-silencio201d/. Acesso: 15/01/2020.JESUS, Maria Carolina de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo, Ática, 2014.KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.LOBO, Luiza. Crítica sem juízo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993.RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.______. Lugar de fala. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.SILVA. Francisca de Sousa da. Ai de vós! Diário de uma doméstica. São Paulo, Civilização Brasileira. 1983.SODRÉ, Isadora. Conceição Evaristo: o sentimento de uma mulher negra através da literatura. In: IBahia. 14 de outubro de 2018. Disponível em: https://www.ibahia.com/flica/detalhe/noticia/conceicao-evaristo-o-sentimento-de-uma-mulher-negra-atraves-da-literatura/. Acesso: 15/01/2020.SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goulart Almeida et ali. Belo Horizonte: UFMG, 2010.STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Trad. Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Difel, 2001.TOLLER, Heloisa. Prefácio de Olhos d’água. 1 ed. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.Recebido em 05-03-2020 | Aceito em 10-05-2020

Referência(s)
Altmetric
PlumX