
Narrar ´e encadear tempos e espaços perdidos: violência de gênero e trauma em "Um amor incômodo" de Elena Ferrante
2020; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Issue: 27 Linguagem: Português
10.11606/issn.1984-1124.i27p264-284
ISSN1984-1124
AutoresTatianne Santos Dantas, Lia Aguirre Silveira da Rosa, Karla Julliana da Silva Sousa, Helena Pillar Kessler, Ana Paula Bellochio Thones,
Tópico(s)Literature, Culture, and Criticism
ResumoNo presente artigo, pretendemos evidenciar como o romance Um amor incômodo, de Elena Ferrante, é atravessado por um abuso sexual que resvala na relação entre uma filha e sua mãe. Na medida em que se articula à violência de gênero, esse acontecimento apresenta-se como um ponto cego da cultura, configurando-se como traumático. Ao final do livro, após reconstituir a história de sua mãe, é possível para a narradora, Delia, lembrar do abuso que sofreu quando criança e significar pontos de sua trajetória que se apresentam como um mal-estar. O incômodo do título, que diz respeito à relação mãe e filha, atravessa a trama ressoando o incômodo da violência que é desvelada no final do romance. Como aporte teórico, tomamos as considerações da crítica literária Shoshana Felman acerca de literatura, testemunho e traumas culturais. Com o intuito de relacionar o trauma com a violência de gênero, retomamos a perspectiva de Sigmund Freud sobre o tema, assim como a discussões mais atuais, através de Cathy Caruth e Gayle Rubin. Assim, propomos que o romance de Elena Ferrante permite um esgarçamento das possibilidades narrativas do trauma do abuso sexual e da violência de gênero, enquanto pontos cegos da cultura.
Referência(s)