Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Sveglia e as paisagens suíças clariceanas

2020; Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística; Volume: 51; Issue: esp Linguagem: Português

10.18309/anp.v51iesp.1523

ISSN

1982-7830

Autores

Djulia Justen,

Tópico(s)

Linguistics and Education Research

Resumo

Este artigo apresenta um percurso pelas narrativas de Clarice Lispector através do relógio Sveglia, protagonista de “O relatório da coisa”, de Onde estivestes de noite (1974). O texto teve duas outras versões: “Objecto-relatório-mistério” (1971) e “Um anticonto” (1972). Nestes contos o relógio performa uma alegoria temporal: como despertador do agora. Ela toma outras direções a partir de um pequeno detalhe entre as versões: a identificação do relógio de nome italiano com um relógio suíço. Este pormenor destacado por “Um anticonto” proporciona um passeio por outros textos de Clarice, aqueles compostos por cenas suíças e da primavera. Neles um olhar dialético percorre paisagens, retratos e assim são perfiladas as características helvéticas da neutralidade, organização, previsibilidade, frieza, insensibilidade. Estes traços maquínicos consistem na ânsia suíça de manter à distância os sentidos do corpo, os trânsitos daimonicos e coincidem com a “precisão suíça”, expressão idiomática atribuída aos relógios suíços. Essa dura disciplina kantiana e anestética, porém, é quebrada com a primavera e as irrupções sensíveis, imprevisíveis trazidas pela estação. O encontro com as narrativas clariceanas sobre passagens suíças possibilita lançar questões temporais e estéticas acerca do relógio Sveglia como tempo de despertar.

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