
Cortem-lhe a cabeça: a atualidade desse enunciado mutilando corpos de mulheres e subjetividades
2020; UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ; Volume: 1; Issue: 57 Linguagem: Português
10.18542/moara.v1i57.8864
ISSN2358-0658
Autores Tópico(s)Urban and sociocultural dynamics
ResumoPartimos da centralidade do conceito de enunciado na obra Arqueologia do Saber, de Michel Foucault, articulando-o com as relações inescapáveis entre discurso, corpo e poder, com o objetivo primordial de analisar o acontecimento discursivo do enunciado Cortem-lhe a cabeça, amplamente conhecido a partir dos gritos bradados pela Rainha de Copas em direção a todos os súditos considerados insolentes no clássico Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Interessa-nos a atualidade desse grito dirigido às mulheres dadas como “insolentes”, determinando-lhes sua execução/decapitação. Nossas reflexões privilegiam a rede de sentidos tramada em torno do significante “cabeça” transformado, historicamente, em símbolo de poder e justiça no bojo do poder soberano e, em certa medida, no bojo do poder patriarcal. Nessa direção, descrevemos as materialidades do nosso corpus - constituído por um caso de feminicídio/decapitação relatado no Facebook - em consonância com o espaço de memória que elas convocam, examinando as condições sócio-históricas de existência e de circulação do enunciado Cortem-lhe a cabeça, as posições de sujeito ali apontadas e as especificidades das materialidades que dão corpo aos sentidos. Destacamos, por fim, as articulações que esse enunciado estabelece com a história das mulheres e a memória, (re)produzindo antigas práticas de mutilação de corpos e de subjetividades.
Referência(s)