Poesia, Filosofia e Ciência
2000; Institute for Operations Research and the Management Sciences; Volume: 7; Issue: 1 Linguagem: Português
ISSN
1526-551X
Autores Tópico(s)Linguistics and Language Studies
ResumoEsta investigacao pretende demonstrar que a revolucao fundamental a que foi submetido o discurso filosofico e cientifico da atualidade suscita e promove um novo regime interdisciplinar, em que se torna possivel um dialogo fecundo entre poesia, filosofia e ciencia. Interdisciplinaridade pressupoe uma constelacao conceitual comum. Na vigencia historica do principio cognitivo da nao-contradicao, que preside a genese e ao desenvolvimento do discurso tradicional da filosofia e da ciencia, a linguagem da poesia e reduzida a condicao subalterna da inconsistencia ontologica e epistemologica. O principio que articula a estrutura da linguagem poetica e metaforico, contraditorio portanto, principalmente porque a metafora diz que uma coisa e outra. No tribunal da consciencia logicamente esclarecida, a metafora so pode ser admitida como uma licenca poetica, um jogo livre da imaginacao, que nada tem a ver com a seriedade do saber. Na otica da razao nomotetica, a linguagem da poesia se torna ainda mais inaceitavel quando, nao se contentando com o ludismo metaforico, se compraz na enunciacao de que os contrarios nao se opoem, mas se complementam. A vincuiacao indissoluvel do caos e do cosmos em Hesiodo e a oposicao harmonica do orgânico e do nao-orgânico em Holderlin sao denunciadas como inadmissiveis pela logica filosofica e cientifica. Atualmente, no entanto, o ditame poetico da interacao dos contrarios nao escandaliza filosofos nem cientistas, simplesmente porque a filosofia e a ciencia ja nao sao regidas pelo principio da nao-contradicao. A epistemologia historica de Gaston Bachelard, que se fundamenta no principio da complementaridade preconizado pela fisica atomica, e a hermeneutica filosofica de Martin Heidegger, que realiza a desconstrucao da estrutura onto-teo-logica da metafisica, sao testemunhos eloquentes de que filosofia, ciencia e poesia convergem no reconhecimento de que os contrarios nao constituem dualidades antagonicas, mas, sim, oposicoes complementares.
Referência(s)