
Gringos e preconceitos brasileiros
2005; Issue: 51 Linguagem: Português
10.48213/travessia.i51.717
ISSN2594-7869
Autores Tópico(s)Race, Identity, and Education in Brazil
ResumoPara muitas pessoas, a única maneira sã e inteligente de falar em gringos1 e preconceitos no Brasil é discursar sobre os preconceitos que estes têm em relação ao país. Isto porque o conceito de “preconceito” tem sido tão vinculado, na arena popular brasileira, à noção de racismo que falar daqueles que alguns brasileiros demonstram para com os estrangeiros - particularmente os oriundos do assim chamado primeiro mundo - parece bobagem. O Brasil, nessa acepção do mundo, é entendido como uma terra tolerante que acolhe qualquer estrangeiro, mas que tem uma queda particular pelos de pele branca, cidadãos da Europa Ocidental ou da América do Norte (acima do Rio Grande, é claro). A partir dessa perspectiva, a idéia de que um gringo possa eventualmente ser vítima de preconceitos por parte dos brasileiros é quase inconcebível e, quando alguém sugere esta possibilidade, na maioria dos casos é rapidamente corrigido pelos brasileiros que estão à sua volta. Como uma colega minha afirmou, pouco tempo depois da minha entrada no Museu Nacional como aluno: “Você não tem o direito de reclamar dos preconceitos, Tadeu. Afinal, esse país te concedeu a permissão de ficar por aqui, te concedeu uma vaga na universidade, te concedeu uma bolsa... Você tomou o lugar de um brasileiro legítimo em nosso sistema educacional e, se fosse minha a decisão, você não teria esse privilégio. Aliás, é bem possível que você só tenha conseguido uma vaga porque o Brasil tem preconceito do Brasil: estamos tão colonizados e falta tanto ao amor próprio que muita gente aqui pensa que qualquer gringo é melhor que qualquer brasileiro.” [...]
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