Artigo Acesso aberto

Síndrome de Horner após anestesia combinada raqui-peridural, um relato de caso

2020; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-2020130259

ISSN

0368-1416

Autores

Fernanda Aguiar Gonçalves, Julieta Agustina Klein, Gessica Fernanda Barbosa,

Tópico(s)

Neurological Complications and Syndromes

Resumo

Introdução: A Síndrome de Horner (SH) caracteriza-se por uma tríade de sintomas — miose, ptose palpebral e anidrose em hemiface —, cujo aparecimento está relacionado à interrupção da via de inervação oculossimpática em qualquer ponto. Em razão de sua grande extensão, atingindo hipotálamo, medula espinhal, gânglios e estruturas vasculonervosas de cabeça e pescoço, a etiologia da SH é diversa, podendo ser causada inclusive por procedimentos anestésicos, como a anestesia raqui-epidural combinada. Embora esses sintomas possam alarmar e preocupar os profissionais de saúde e o próprio paciente, nos casos relacionados à anestesia obstétrica, trata-se de um evento benigno e raro, que costuma ter regressão espontânea, não sendo associado a desfechos maternos ou neonatais ruins. Objetivo: Descrever um caso de SH após a realização de anestesia raqui-peridural combinada para parto cesáreo. Descrição do Caso: B.Z.D., 25 anos, hígida, primigesta, pré-natal sem intercorrências. Chegou à maternidade em trabalho de parto, com idade gestacional de 40 semanas, dados vitais estáveis, contrações regulares, vitalidade fetal preservada e bolsa íntegra, dilatação de 5 cm e DeLee -2, sendo encaminhada para a sala de pré-parto com medidas não farmacológicas de controle da dor. Duas horas após, a dilatação era de 7 cm e o DeLee -2 e, nesse momento, a paciente solicita analgesia de parto, sendo realizada a anestesia raqui-peridural combinada, que se seguiu com redução das contrações uterinas. Após a administração de 5 UI de ocitocina em bomba de infusão, tem-se a retomada da dinâmica uterina e amniorexe espontânea. Após quatro horas, a dilatação ainda era de 7 cm e DeLee -2, e é indicado parto cesáreo por desproporção cefalopélvica e exaustão materna. No total, foram utilizados 50,4 mL de soluções anestésicas incluindo bupivacaína, lidocaína, ropivacaína e fentanila. Após cinco minutos, a paciente apresentou fala arrastada, queda do nível de consciência (Glasgow 10), taquicardia e hipotensão. Ao final do procedimento cirúrgico, os dados vitais eram estáveis, porém estava confusa, agitada, com pupilas anisocóricas — miose e ptose palpebral, ambos à esquerda, sem nenhum outro sintoma associado. Houve resolução espontânea completa dos sintomas em 12 h e a paciente teve alta hospitalar em 48 h, sem sequelas. Resultados e Conclusão: A paciente apresentou hipotensão, complicação comum relacionada à indução anestésica, e, além desta, ocorreu a SH. O surgimento da SH, nesse caso, não pode ser explicado por um possível acidente subdural, dado que a paciente não apresentou nenhum dos critérios maiores ou menores de Lubenow. Sugere-se que a ocorrência da síndrome esteja relacionada a uma distribuição anestésica atípica, decorrente do grande volume de soluções anestésicas administradas, dado que volumes anestésicos acima de 40 mL podem chegar a níveis torácicos superiores e cervicais baixos, o que pode causar a interrupção da via oculossimpática e, consequentemente, a SH.

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