Artigo Acesso aberto

Bav fetal congênito em gestantes anti-ro positivo: relato de caso

2020; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-2020130255

ISSN

0368-1416

Autores

Priscilla Veiga Pereira da Silva, Nilson Ramires de Jesús, Guilherme Ramires de Jesús, Sérgio Eduardo de Paiva Gonçalves,

Tópico(s)

Cardiovascular Issues in Pregnancy

Resumo

Introdução: O bloqueio átrio ventricular congênito (BAVc) afeta 1 em 17.000 nascimentos na população geral e sua incidência é de 2% nos nascidos expostos a anticorpos anti SSA/Ro maternos. Estes atravessam a placenta e geram um processo inflamatório local resultando em fibrose no nó átrio ventricular fetal. O BAVc pode ser de 1º, 2º ou 3º grau. Seu diagnóstico pode ser intrauterino, ao nascimento ou no 1º mês de vida, em um feto com coração estruturalmente normal. Na maioria das vezes, o bloqueio é detectado por meio de ultrassonografia (USG) no 2º ou 3º trimestre de gravidez. O tratamento do BAVc é controverso, divide-se em sintomático, para acelerar frequência cardíaca fetal (FCF), e corticoide, com objetivo curativo. Objetivo: Relatar o caso de uma gestante com anticorpo Anti-Ro + e seu feto diagnosticado com BAVc em hospital público terciário no Rio de Janeiro. Materiais e Métodos: Análise de prontuário e revisão bibliográfica. Resultado: Mulher, 30 anos, sem comorbidades. Uveíte na infância após infecção por toxoplasmose. Sem histórico familiar de doenças autoimunes. Encaminhada para seguimento em pré-natal hospitalar após confirmação de bradicardia fetal em USG de 7 de janeiro de 2019, com idade gestacional (IG) de 26 semanas (sem) e 4 dias (d), batimento cardíaco fetal (BCF) irregular de 92 bpm, líquido amniótico normal e peso fetal estimado (PFE) de 865 g. Na primeira consulta de pré-natal nesse hospital, paciente assintomática e exame físico com BCF de 58 bpm. Exame laboratorial de 16 de janeiro de 2019 com Anti-Ro + e Anti-La -, sem demais alterações até o fim da gestação. Em 30 de janeiro de 2019, prescrito salbutamol 10 mL 8/8 h, para aumentar a frequência cardíaca fetal, e betametasona 4 mg/dia, para reduzir o efeito da miocardite e a queda da FCF na gestação. Iniciou ecocardiografia fetal semanal após o diagnóstico de BAV e quinzenal após IG de 28 sem. Último ECO em 27 de março de 2019, com 36 sem e 5 d: BCF 44 bpm, PFE 2720 g, sem sinais de hidropsia. Foram feitas USGs obstétricas sem doppler (este teria sua leitura prejudicada em razão da bradicardia fetal). Em 1º de abril de 2019, foi realizada cesariana eletiva, sem intercorrências, com recém-nascido (RN) masculino, peso 3050 g, Apgar 9/9, sem malformações aparentes, encaminhado para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Um marcapasso (MP) foi colocado no RN em 02 de abril de 2019. Alta hospitalar do bebê com FC: 110 bpm, em uso de captopril para reduzir a pós-carga cardíaca. Está em acompanhamento no ambulatório de Cardiologia, objetivando manter MP por sete anos. Conclusão: O BAVc é mais frequente em fetos de mães com anti SSA/Ro + e a morte intrauterina ocorre em cerca de 6% dos casos. O ECO fetal é importante no diagnóstico precoce, pois avalia a FCF, o ritmo cardíaco, a presença e extensão de fibrose endocárdica e o grau de insuficiência cardíaca. O tratamento é controverso, o uso de corticoide possui efeitos colaterais e a reversão do BAVc total nunca foi alcançada. Não existe uma diretriz oficial, pois faltam dados na literatura e estudos randomizados em larga escala. Logo, a detecção precoce é essencial para o prognóstico neonatal nas pacientes com anti Ro +.

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