Artigo Acesso aberto

Montaigne, Oswald de Andrade e a descolonização antropofágica

2021; UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA; Volume: 11; Issue: 1 Linguagem: Português

10.26512/dasquestoes.v11i1.37253

ISSN

2447-7087

Autores

Ivan Maia de Mello,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

Considerando o ensaio Dos canibais de Michel de Montaigne como ponto de partida que fecundou a concepção da Antropofagia como perspectiva filosófica (em sentido ético, estético e político) por Oswald de Andrade, faz-se a discussão da relação entre essas compreensões da antropofagia e sua potência crítica de descolonização da subjetividade, tanto em relação ao passado, como reapropriação da história, por meio de narrativas que se contrapõem e desconstroem os discursos da colonialidade, quanto em relação ao futuro, como apropriação dos meios (saberes e práticas) para criação de novas possibilidades de vida, particularmente no campo da literatura, das artes e do conhecimento. Também é examinada a hipótese oswaldiana da influência da forma de vida (valores e costumes) dos povos originários da América, com os quais os viajantes do início da colonização e outros escribas tiveram contato, sobre o pensamento europeu, particularmente o pensamento político. Busca-se compreender como Oswald correlacionou os temas da devoração antropofágica, da reapropriação do ócio diante da hegemonia dos negócios, da crítica ao patriarcado, ao messianismo, da concepção interpretativa do sentimento órfico, e da compreensão histórica do pensamento e da experimentação utópica. A conclusão resultante da elaboração da compreensão antropofágica das possibilidades de descolonização subjetiva é a que retoma as perspectivas ancestrais dos povos originários da América e da África (e que pode incluir as perspectivas de outros povos), para problematizar criticamente a própria história dos povos colonizados e os efeitos da colonização ainda presentes na vida desses povos, bem como avalia, visando uma seleção, as componentes de subjetividade que podem ser apropriadas para aumentar a potência de criação de possibilidades éticas, estéticas, políticas, epistemológicas, ecológicas e de saúde de um modo de vida primitivista. Assim é elaborada a filosofia antropofágica como perspectiva de descolonização histórica e existencial, crítica e criativa.

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