
GENOCÍDIO DO POVO NEGRO E BIOÉTICA: UMA QUESTÃO ANTROPOLÓGICA
2019; Volume: 10; Issue: 2 Linguagem: Português
10.7443/problemata.v10i2.49116
ISSN2236-8612
AutoresIvo Pereira de Queiroz, Anor Sganzerla,
Tópico(s)Palliative and Oncologic Care
ResumoEste estudo repercute a aflição frente à necropolítica dizimadora do povo negro brasileiro, atualmente em curso, onde mais de 75% das pessoas assassinadas no Brasil são negras. O movente factual da reflexão reverbera o fuzilamento de Evaldo Rosa, em 7 de abril de 2019, cujo automóvel foi alvejado por 62 tiros, dos 257 desferidos por militares do exército, na cidade do Rio de Janeiro e desencadeou uma onda de denúncias contra o genocídio do povo negro perpetrado pelo aparelho repressivo do estado brasileiro. Desarmado e conduzindo a própria família, a vítima fatal, um homem negro, foi alvo também do escárnio dos matadores. A argumentação traz à tona passagens das literaturas produzidas pelo psiquiatra martinicano Frantz Fanon (1925-1961), cuja obra espelha o engajamento do autor na luta anticolonial em favor da África libertada. Igualmente, o texto retoma o estadunidense Van Rensselaer Potter (1911-2001), bioquímico, pesquisador oncológico, considerado um dos fundadores da Bioética. O texto compara pressupostos antropológicos que presidiam às intervenções de cada pensador. Em Fanon, o enfrentamento do colonialismo nos anos de 1950 e 1960, e suas repercussões sobre as sociedades e o psiquismo das pessoas consistiu na matéria prima de suas atuações como psiquiatra, escritor e ativista político. Potter, sensibilizado pela docência e a vivência junto a pacientes oncológicos avaliou as condições de sobrevivência humana no planeta e perspectivou a necessidade de mudanças culturais sob pena de extinção da vida. Em que pese a inquietação de Fanon com a liberdade, em sua análise do colonialismo e da luta de libertação, considerou longamente a necessidade da violência e da morte; posteriormente, Potter, motivado pela sobrevivência, postulou o controle quantitativo da população. Frente a esse cenário, esta reflexão quer saber: em que sentido a relação entre o genocídio do povo negro, no Brasil, e a bioética configura uma questão antropológica? À luz deste questionamento, o artigo recupera o tema da antropologia filosófica, tecendo o perfil geral da disciplina assim como a sua importância para a ação humana. Em seguida, recolhe dos escritos de Fanon abordagens que permitem identificar a sua perspectiva antropológica. Adiante, faz-se o mesmo no tocante a passagens de Potter. Conclui-se que as reflexões antropológicas de Fanon assentam-se sobre a consciência e a tomada de consciência, pressupostos da liberdade e da responsabilidade. Por sua vez, Potter articula um humanismo discriminatório, premissa de graves repercussões.
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