Artigo Acesso aberto

Chico e Caetano cantam “BÁRBARA”: marco na canção de eu lírico feminino

2021; Linguagem: Português

10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/eu-lirico-feminino

ISSN

2448-0959

Autores

André de Freitas Simões,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

O presente artigo tem por finalidade analisar um momento de transformação na produção de canções de eu lírico feminino no Brasil, no qual a paisagem sociocultural do período do regime militar de 1964 opera papel fundamental. Para servir como exemplo sintomático das mudanças qualitativas e quantitativas das canções de eu lírico feminino na época, analisou-se a canção “Bárbara”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, particularmente na versão interpretada por Chico Buarque e Caetano Veloso no álbum “Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo” (1972). Defende-se que, para a análise satisfatória de uma canção popular, não podem, em primeiro lugar, ser levados em conta os aspectos musicais e líricos de maneira separada, mas não apenas isso: também se faz imprescindível deter-se sobre os aspectos interpretativos e históricos, entre outros, que permeiam o registro de um fonograma. “Bárbara” é uma canção composta como dueto entre duas mulheres amantes, sendo sua temática por si só provocativa, com representação de personagens femininas distante do modelo “penelopeano” então largamente em vigor no Brasil; quando se soma a isso o fato de que a canção foi, nessa gravação em análise, interpretada por dois homens, alarga-se o teor de afronta da canção — e foi aí inaugurada uma abertura para que passasse a ser fato corriqueiro intérpretes masculinos cantando canções no eu lírico feminino. Num momento em que a crítica direta ao governo vigente estava vetada por forte ação da censura, a contestação via comportamental assume grande valor, e a figuração de mulheres, em canções de eu lírico feminino, distantes do tradicional papel passivo que lhes era majoritariamente reservado, passou a ser procedimento usual na canção brasileira do período como forma de empunhar uma bandeira de liberdade.

Referência(s)