Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

De tutsi a inyenzi: humilhações, desprezos e violências na experiência interétnica ruandesa

2021; UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA; Volume: v.46 n.3; Linguagem: Português

10.4000/aa.8914

ISSN

2357-738X

Autores

Caroline de Oliveira Mendonça,

Tópico(s)

African history and culture analysis

Resumo

O artigo analisa antecedentes que culminaram no Genocídio Tutsi em Ruanda em 1994, por meio da literatura das sobreviventes deste evento. O foco são as práticas de humilhação, ódio e desprezo na construção da diferença entre hutus e tutsis. Partindo do exame da literatura de testemunho de quatro sobreviventes, me pergunto quais são as afinidades entre a experiência colonial em Ruanda, humilhação, inimizades e os modos de se fazer morrer no genocídio. Em diálogo com as contribuições de Mbembe sobre a questão colonial, o texto argumenta que, por meio da tese hamítica, foram organizadas narrativas que contribuíram para o domínio colonial. Essa tese não só estimulava a etnização da sociedade ruandesa, mas o fazia por meio da cristalização étnica e de inimizades advindas da elitização dos tutsis. Por meio da literatura de testemunho das ruandesas Scholastique Mukasonga, Immaculée Ilibagiza, Marie Béatrice Umutesi e Yolande Mukagasana, é possível perceber parte de algumas transformações do tecido social ruandês, como o antitutismo, violências e humilhações em consonância com o processo discursivo de animalização dos tutsis ao longo da segunda metade do século XX. Processo que culminou nos modos de se fazer morrer no genocídio. Finalmente, o texto aponta para essa literatura como espaço privilegiado para a elaboração do trauma dessas mulheres que narram, por meio de lembranças e da memória, a complexidade emocional impressa por um genocídio nas suas biografias.

Referência(s)