Mastite química por silicone industrial: relato de caso
2021; Linguagem: Português
10.5327/jbg-0368-1416-20211311054
ISSN0368-1416
AutoresPhillip Petraglia, Bruno Menezes Lo Bianco, Felipe Costa Angelo, Tereza Maria Pereira Fontes, Roberto Luiz Carvalhosa dos Santos, Katia Alvim Mendonça,
Tópico(s)Women's cancer prevention and management
ResumoIntrodução: No Brasil, cirurgias estéticas não reparadoras não fazem parte dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde. Sabendo que os valores delas não condizem com a capacidade econômica da grande maioria dos brasileiros, muitos indivíduos utilizam-se de meios, artifícios e substâncias contraindicadas para obter o resultado esperado. Porém, na grande maioria das vezes, essas alternativas não são seguras e quase sempre vêm acompanhadas de complicações. Uma das substâncias utilizadas nesses processos é o silicone líquido industrial. Tais práticas tiveram início nos anos 1970, quando leigos em todo o mundo utilizaram injeções de silicone industrial para aumentar mamas e melhorar o contorno corporal. Muitos pacientes que receberam essas injeções evoluíram com sérias complicações, desde a migração do produto, causando siliconomas, até doenças autoinflamatórias. Relato de caso: M.M.A., 64 anos, doméstica, tabagista, G:IV, P:III e A:I, ativa sexualmente, submeteu-se há 35 anos à aplicação de silicone industrial líquido, informalmente, em uma casa no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, onde se praticavam procedimentos ditos estéticos. Relata que ao longo dos anos foi assintomática até que, há sete meses, apresentou dor e aparecimento de fístula mamária na união dos quadrantes superiores da mama direita, com drenagem de secreção purulenta, não associada a febre, que ora melhorava com o uso de antibiótico e ora apresentava recorrência do quadro. Ao longo dos meses, evoluiu com o aparecimento de tumoração avermelhada e aumento do orifício fistuloso. Ao exame clínico, apresentava mamas de grande volume, assimétricas, sendo a direita maior que a esquerda, com presença de tumoração avermelhada medindo 10 cm na união dos quadrantes superiores da mama direita com a área de necrose central. A mamografia realizada um mês após o início dos sintomas revelava múltiplas imagens radiopacas (“aspecto de material injetado”) e presença de linfonodos nos prolongamentos axilares. No exame ultrassonográfico, foram visualizadas inúmeras formações de aspecto cístico, bilateralmente, associado a importantes artefatos que degradavam a avaliação do parênquima, suspeitando-se de silicone líquido. Após a consulta, foi encaminhada para um serviço de cirurgia plástica reparadora. Conclusão: A injeção de silicone industrial nas mamas pode acarretar alterações no seu parênquima, que vão desde um processo inflamatório prolongado até a associação com um tumor de mama. Trabalhos mostram que as reações tardias ocorrem entre três e 20 anos depois, podendo se estender até 45 anos. A paciente retratada neste caso apresentou um quadro sintomatológico 35 anos após a injeção do produto, com comprometimento estético devastador.
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