Gravidez heterotópica: um relato de caso
2021; Linguagem: Português
10.5327/jbg-0368-1416-20211311160
ISSN0368-1416
AutoresLaís Gomes Ferreira, Camila Fleckner Navarro Rodrigues Caldas, Bruno Almeida C. Soares, Edna de Jesus Suzano, Matheus Alves Monteiro de Paula, Mariana Neves Pimentel,
Tópico(s)Assisted Reproductive Technology and Twin Pregnancy
ResumoIntrodução: A gravidez heterotópica é a coexistência entre uma gravidez intrauterina e outra extrauterina. Quando ocorre de forma espontânea, é rara (1:30.000) e geralmente está associada a técnicas de reprodução assistida (1:100-500). Fatores de risco comuns são doença inflamatória pélvica, uso de dispositivo intrauterino e gravidez ectópica prévia. Relato de caso: Mulher, 27 anos, GV PII AII, foi admitida com queixa de dor abdominal difusa, sinais de irritação peritoneal e dor referida no ombro. Trazia ultrassonografia transvaginal (USGTV) que mostrava gestação tópica em idade gestacional compatível com seis semanas e seis dias e imagem ovalar heterogênea em região anexial esquerda medindo 2,8x2,4 cm, com fluxo sanguíneo periférico ao doppler, correlacionada à ressonância magnética, que confirmou a presença e sugeriu diagnóstico de gravidez heterotópica. Por apresentar instabilidade hemodinâmica, foi encaminhada à laparotomia exploradora, que evidenciou prenhez ectópica rota, e foi realizada salpingectomia esquerda. A paciente foi encaminhada à terapia intensiva para estabilização e acompanhamento pós-operatório, com necessidade de noradrenalina endovenosa em infusão contínua para controle hemodinâmico, quando, sem sucesso, foi prescrita transfusão de concentrado de hemácias. Após 24 horas, a paciente apresentava bom estado geral, estava orientada, hidratada, hipocorada +/4+, acianótica, anictérica, com pressão arterial de 35x74 mmHg, frequência cardíaca de 89 bpm e saturação de oxigênio >95%. Ferida operatória por incisão de Pfannenstiel em bom estado. Encontrava-se em uso de cefazolina, cetoprofeno e em desmame de noradrenalina. Dois dias após o procedimento, manteve estabilidade clínica com alta de terapia intensiva e programação de nova USG. Iniciou Progesterona, mantendo analgesia e antibioticoterapia. À USGTV, visualizou-se saco gestacional tópico, útero gravídico com embrião viável em IG compatível com sete semanas e seis dias e pequena quantidade de líquido livre em fundo de saco. O exame anatomopatológico do material cirúrgico mostrou tuba uterina de 4,5x3,0 cm com paredes espessadas preenchidas por conteúdo hemorrágico, e concluiu-se tratar de prenhez ectópica rota com congestão vascular da serosa. Conclusão: O quadro exposto geralmente tem diagnóstico tardio e prognóstico reservado, de acordo com a sintomatologia exuberante na gestante. Com a resolução da gestação ectópica, se o feto ainda for viável, o seguimento com progesterona até o fim do período gravídico é uma conduta aceitável. A gravidez heterotópica espontânea é um evento obstétrico raro, com incidência crescente nos últimos anos em consequência de técnicas de reprodução assistida. O manejo depende do momento em que é feito o diagnóstico, da presença de complicações e da viabilidade fetal. O diagnóstico precoce é extremamente importante para uma intervenção eficaz na gravidez ectópica e envolve a intenção de preservar a gestação intrauterina sem gerar riscos maiores à gestante.
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