Desafios no diagnóstico das síndromes disautonômicas na gestação: relato de caso

2021; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-20211311141

ISSN

0368-1416

Autores

Ellen Tieko Tsugami Dalla Costa, Paula Faria Campos, Kelma Luana Abreu de Siqueira, Lorena da Silva Rosa, Catharina Maria Facciolli Blum, Carolina Genaro Pultrin,

Tópico(s)

Cardiovascular Syncope and Autonomic Disorders

Resumo

Introdução: A gestação é um período singular, no qual alterações fisiológicas podem exacerbar os sintomas das síndromes disautonômicas. A síndrome de taquicardia postural ortostática (POTS) é uma disautonomia simpática caracterizada pelo aumento de ≥30 batimentos por minuto (bpm) na frequência cardíaca quando em posição ortostática, sem hipotensão, que pode estar associada a cefaleia, vertigem, ansiedade, turvação visual e síncope em pacientes acima de 19 anos. Os sintomas de taquicardia no paciente com a síndrome de POTS podem ser desencadeados por: hipovolemia, quando a diminuição da pré-carga provoca a taquicardia reflexa; disfunção neuroendócrina com estado hiperadrenérgico; e disautonomia do sistema nervoso adrenérgico. Por outro lado, a síncope vasovagal vasoplégica ocorre em consequência de uma hipotensão por bradicardia associada ou não a vasodilatação periférica. Relato de caso: Gestante, 20 anos, primigesta, 33 semanas, com história de transtorno depressivo recorrente, com tentativas de suicídio impulsivas e síncope quando em posição ortostática por mais de 10 min. Ao exame físico, apresenta frequência cardíaca de 108 bpm quando sentada; 118 bpm e tontura leve quando em pé por 3 min; 138 bpm e turvação visual quando em pé por 7 min; e 140 bpm, com piora dos sintomas, quando em pé por 10 min. O tilt test realizado foi tecnicamente limitado, pois descreveu aumento na frequência cardíaca e posterior queda da pressão arterial, evoluindo para uma pressão arterial inaudível, e considerou síncope vasovagal vasoplégica positiva, porém não computou o aumento da frequência cardíaca nos primeiros 3 min, critério para a síndrome de POTS. Diante dos achados clínicos e após a interpretação cuidadosa do tilt test, foi aventada a hipótese de síndrome de POTS associada à síncope vasovagal, além de depressão e ansiedade secundárias. Iniciou-se o tratamento com Fluoxetina; ingestão de 3 a 4 litros de água por dia; e uso de meia compressiva, com melhora na tolerância da posição ortostática. Entrou em trabalho de parto com 38 semanas e 6 dias, quando foi indicada a cesariana por desproporção cefalopélvica. O parto e o pós-parto evoluíram sem qualquer intercorrência. Conclusão: Perante os sintomas de disautonomia, os diagnósticos diferenciais devem ser cuidadosamente avaliados. A síndrome de POTS ou a síncope vasovagal vasoplégica não são contraindicações para a gestação. Durante o terceiro trimestre, a pressão uterina na veia cava inferior piora a pré-carga cardíaca, podendo piorar os sintomas de disautonomia. O diagnóstico adequado, associado ao acompanhamento especializado, possibilitam o controle dos sintomas e uma gestação mais segura.

Referência(s)
Altmetric
PlumX