Síndrome da transfusão feto-fetal — diagnóstico, tratamento e complicações: relato de caso

2021; Linguagem: Português

10.5327/jbg-0368-1416-20211311206

ISSN

0368-1416

Autores

Marcos Vinícius Freitas de Souza, Sabrina Carpanez Veiga, Ana Claudia de Assis Capanema Braga,

Tópico(s)

Hemoglobinopathies and Related Disorders

Resumo

Introdução: As anastomoses vasculares placentárias que conectam as circulações fetais estão presentes nas gestações monocoriônicas e podem levar ao desenvolvimento de complicações graves, como a síndrome de transfusão feto-fetal (STFF). O tratamento objetiva separar as duas circulações, e o mais realizado é a coagulação a laser das anastomoses. Como complicações pós-operatórias, pode ocorrer STFF recorrente e sequência de anemia-policitemia (TAPS). Relato de caso: J.S.L. foi encaminhada para o pré-natal de alto risco com idade gestacional (IG) de 13+5 semanas por gestação gemelar sem corionicidade descrita em ultrassonografia (US) precoce. Em US realizada com 14+3 semanas, foi identificada gestação monocoriônica e diamniótica com STFF Quintero II, sendo o feto I o receptor e o II o doador. A paciente foi acompanhada com US semanal seriada até 18 semanas de gestação, quando, então, foi encaminhada para a realização de ablação a laser das anastomoses placentárias. Na ocasião da intervenção intrauterina, apresentava quadro de STFF Quintero III. Após o procedimento, que ocorreu sem intercorrências, manteve acompanhamento semanal com US. Durante o seguimento, com IG de 19+3 semanas, apresentou TAPS e o feto II evoluiu para decesso com 21/22 semanas. Seguiu-se a conduta conservadora, com US semanal, em razão de crescimento restrito sem alteração ao doppler. Com IG 35/36 semanas, a paciente entrou em parturição espontânea e evoluiu para parto vaginal com nascimento do 1º gemelar com Apgar 8/10 e expulsão espontânea do 2º gemelar. Prosseguiu com puerpério fisiológico e recebeu alta com o recém-nascido. Conclusão: As gestações monocoriônicas podem apresentar complicações graves, como STFF e TAPS. Esta última pode ocorrer como consequência de 2 a 16% das gestações monocoriônicas submetidas à ablação. Essa condição apresenta ampla variação em tempo de apresentação, que pode ser atribuída à reversão do papel doador-receptor ou em casos de suprimento de sangue de compensação. Um alto valor de pico de velocidade sistólico - artéria cerebral média (PVS-ACM) pós-ablação pode ser preditor do reestabelecimento da hemodinâmica fetal, em vez da suspeição da presença de uma anastomose residual. Portanto, programar novas intervenções precoces após o procedimento pode gerar exposição a riscos iatrogênicos. Assim, recomenda-se a vigilância com US nas primeiras semanas que sucedem a ablação para acompanhar o comportamento do PVS-ACM e o possível desenvolvimento da TAPS. Os fatores de risco envolvidos no decesso pós-ablação resumem-se na redistribuição cerebroplacentária do feto doador e na disfunção cardíaca grave do receptor. Ademais, a TAPS pode ocorrer em qualquer momento pós-ablação e são necessários estudos mais detalhados para definir fatores de risco pré-operatórios para decesso após o procedimento, a melhor terapêutica e o momento de intervenção, a fim de minimizar potenciais complicações.

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