
A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA DE FRANCISCO JULIÃO NO EITO DA CANA
2021; Volume: 12; Issue: 30 Linguagem: Português
10.25247/paralellus.2021.v12n30.p487-505
ISSN2178-8162
AutoresJosé Tadeu Batista de Souza, Ricardo Jorge Silveira Gomes,
Tópico(s)Urban Development and Societal Issues
ResumoO artigo pretende colocar em evidência uma questão reconhecidamente complexa. Trata-se da hermenêutica da Bíblia feita por um ativista de inspiração socialista, declarado ateu e assessor jurídico das Ligas Camponesas. Inicialmente tenta-se fazer o esforço de deixar claras as possiblidades de compreensão do sentido do termo hermenêutica. Em seguida faz-se a tentativa de delimitar qual é a perspectiva de compreensão de socialismo. Em terceiro lugar considera-se a atuação de Francisco Julião nas Ligas Camponesas que, para além das suas funções de assessor jurídico, assume o papel de formador do desenvolvimento da consciência da realidade vivida pelos camponeses no trabalho da terra e no cultivo da cana. No intuito de promover um novo modo de avaliar a própria circunstância e encontrar alternativas para a sua experiência de vida marcada pelo sofrimento advindo das condições de trabalho que resultava numa situação de miséria e opressão, ele recorreu à interpretação da Bíblia que revelava uma experiência similar a que era vivida pelos trabalhadores naquele momento e apresentava a intervenção de Deus como ação libertadora da situação de miséria e opressão e a oferta de uma “terra onde jorrava leite e mel”. Enquanto conhecedor da dinâmica camponesa do estado ele percebeu os três pilares no cotidiano da vida do homem do campo: a religião, a cachaça e o capanga. Com base nesse conhecimento, desenvolveu um processo formativo que visava a transformação da realidade da vida das pessoas em função de um novo modo de viver em sintonia com a vontade de Deus. A produção de documentos, o uso de uma linguagem simples e o esforço de fazer a hermenêutica dos textos bíblicos estiveram em função desse grande objetivo Em outras palavras, Julião praticou uma verdadeira hermenêutica da existência em função da própria vida que poderia ser vivida como um evento coletivo com cheiro de terra molhada e sabor do mel da cana.
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