Jantar
1999; Volume: 12; Issue: 23-24 Linguagem: Português
10.1353/ntc.1999.0023
ISSN1940-9079
Autores ResumoJANTAR ANA MIRANDA A mesa estava posta, eu mesma dispusera os pratos, as tacas, os talheres , os guardanapos para os labios puros, resignada a fazer parte de um mundo verdadeiro, eu o esperava para jantar havia anos, o desejo de jantar com ele crescera, fora tomando meu peito, pois tinha agora vontade de gritar , O que vais comer? logo saberás o prato principal desta noite, perfumada desamparada solitaria palpitante, vestido negro, luva negra apenas na mäo esquerda, colar de pérolas, minhas almas se debatiam dentro de mim e se arrastavam atrás de mim como um rabo peludo, eu ia à janela, olhava a rua, acendia um cigarro, fumava, Tudo está à tua espera, fumaça, cábelos presos, andava arrastando na cauda meu coraçâo inconsciente, úmido, a campainha tocou, oito horas, abri a porta, seus olhos marítimos eram o corpo mostrando o espirito, um espelho surpreendente e atrás dele um homem, os dois levemente embriagados de algo que näo sei, Trouxe um amigo, ao fechar a porta senti urna faca destrinc(cedilha)ando meu corpo, aquele amigo atrás dele como sua sombra e salvaçâo, um pedaço de mim em cada parte e eu täo desamparada, um gesto qualquer, Encontro-me estranhamente distanciada, eles beberam uísque, pareciam fazer parte do mundo real, aos poucos seus corpos e seus rostos se iluminavam para mim, mas ainda havia sombras, nove horas, corpos vivos e verdadeiros de homens, por que ele trouxe alguém, terá medo de mim? suas palavras, seus sorrisos, seus olhares furtivos para as paredes da casa, tudo era täo profundo, um reflexo da lúa acende o mar e o torna de um negro submerso, eles nao queriam perder os detalhes de mim como se eu fosse urna caçadora e eles duas presas afundadas no sofá, belos e nervosos, agora embriagados de mim, onze horas, Isto é o mundo, isto sou eu, Gosto de olhar pela janela de mim mesma , Vou vestir um agasalho, eles sussurraram na sala, pararam de falar quando retornei, vencida, Sinto muito frió nos cábelos, Acenda meu cigarro, meia-noite, eles olhavam o relógio, olhavam a mesa, os pratos limpos, garios , dois cálices, duas da manhä, duas taças fêmeas bêbadas de vinho do corpo da mulher, eles se foram achando que nao houve nenhum jantar, esqueci de dizer que o jantar era eu.©1999 NUEVO TEXTO CRITICO Vol. XII No. 23/24, Enero a Diciembre 1999 ...
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