Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Tempo, tempos

2017; Volume: 23; Issue: 1 e 2 Linguagem: Português

10.35699/2316-770x.2016.2777

ISSN

2316-770X

Autores

Carlos Antônio Brandão,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

Não vivemos em qualquer lugar, mas em um “mundo”, antes mesmo de vivermos sobre a “Terra”: Não haveria Terra se não pudéssemos nomeá-la, e só podemos nomeá-la por habitarmos um mundo provido de linguagem. Para que aquilo que nos rodeia deixe de ser um amontoado de coisas e entes sem sentido e seja ordenado de modo a constituir o que chamamos “mundo”, é preciso linguagem, espaço e tempo. O tempo é, portanto, uma categoria por meio da qual convertemos o caos que nos rodeia em cosmos – universos ordenados e compreensíveis – que vão desde o nível do nosso corpo, do nosso quarto, da nossa casa, da nossa cidade até o da astronomia e da astrologia, com suas galáxias, seus buracos negros e seus microcosmos nanométricos. Sem o tempo não há compreensão; sem o tempo não há os lugares por ondepassamos e onde transcorreu a nossa vida: habitamos a história e o tempo, antes de habitarmos a geografia e o espaço. Existem diversos tipos, camadas e escalas de tempo e de temporalidades: o cronológico, o mítico, o divino, o messiânico, o Kairos, a durée bergsoniana, o geológico, o profundo, o psíquico, o onírico, o sucessivo, o linear, o circular, o quântico, o da relatividade, o da análise, o das ruínas, o público, o particular,o acelerado, o burocrático, o “era uma vez”, o “ainda não”, o “já”, o mercurial, o saturnino, o suspenso nos relógios moles de Dali, o “boitempo” dos livros de Drummond e a cotidiana “falta de tempo” de todos nós, entre outros. Vivemos, ou temos a possibilidade de viver em todos ou entre todos eles: nascemos muitos, e não é necessário que passemos a vida ou morramos um só. Diz Ivan Domingues que nossa experiência dotempo se faz na díade constituída entre o efêmero e o instante, por um lado, e o eterno e duradouro, por outro. [...]

Referência(s)