A ESTRANHA OBJETIVIDADE DO VALOR: TRABALHO, IDEOLOGIA E CAPITAL NO PENSAMENTO DE MARX
2020; Volume: 11; Issue: 3 Linguagem: Português
10.25244/tf.v11i3.1144
ISSN1984-5561
Autores Tópico(s)Social and Political Issues
ResumoEm O Capital, Marx nos alertou que a mercadoria tem um caráter misterioso que carrega “sutilezas metafísicas e argúcias teológicas”. Este artigo tenta decifrar um pouco desse mistério buscando decodifica-lo naquilo que denominamos como a estranha objetividade do valor. Para isso, analisamos a relação entre a ideologia e o valor a partir da crítica marxiana à mercadoria, consignada à lógica de Hegel. Vemos que o valor se constitui como razão ontológica da mercadoria enquanto produto do processo de trabalho que carrega uma racionalidade imanente, isto é, um espírito socialmente produzido que se objetiva à medida que é vivenciado pelos indivíduos como uma lógica social que rege as relações nesta sociedade. Isso se dá por meio de “sutilezas metafísicas” na formação da realidade social marcada por contradições estabelecidas entre, de um lado, o conteúdo objetivo das relações sociais, e de outro, a forma como essas relações são vivenciadas pela consciência na sociedade capitalista. Nesta relação entre conteúdo e forma, encontramos determinações de profundidade ontológica entre o valor e a ideologia, enquanto forma social que opera harmonizando as contradições constituintes da realidade social, a exemplo do que acontece no trabalho assalariado. A mediação ideológica se põe como uma progressão imanente à materialização da vivência concreta da relação entre capital e trabalho no salário, de maneira a naturalizar a exploração que se esconde na estranha objetividade do valor que se realiza na troca de mercadorias. Concluímos que a conexão ontológica entre o ser social e a mercadoria é socialmente ubíqua, precisamente por conta do seu caráter ideológico na formação da sociabilidade a partir do processo de trabalho subjugado ao capital.
Referência(s)