A Reversão da Doutrina Copernicana. A arca-originária Terra não se move
2022; UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO; Volume: 11; Issue: 1 Linguagem: Português
10.12957/ek.2022.64538
ISSN2316-4786
Autores Tópico(s)Memory, Trauma, and Testimony
ResumoApresentamos aqui a primeira tradução para o português do célebre manuscrito D 17, escrito por Husserl entre 7 e 9 de maio de 1934, e publicado por M. Farber em 1940, no volume Philosophical Essays in Memory of E. Husserl. O manuscrito possuía em seu envelope o seguinte comentário descritivo: "Reversão da doutrina copernicana na interpretação da visão de mundo habitual. A arca-originária Terra não se move. Investigações fundamentais sobre a origem fenomenológica da corporeidade da espacialidade da natureza no sentido primeiro da ciência natural. Todas estas investigações iniciais necessárias". Escrito no estilo livre e vivaz que caracteriza os manuscritos de pesquisa da fenomenologia de Husserl, este texto pertence ao grupo de manuscritos produzidos no entorno da última obra publicada de Husserl, A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental (1936). Se no extensamente comentado §9 desta obra Husserl empreende uma análise da ciência moderna partindo da instituição originária da física de Galilei, o ponto de partida de A Reversão é a noção de natureza que caracteriza o mundo copernicano, a qual estabelece a Terra como um corpo físico situado no interior do universo infinito. A epoché (no sentido específico dado a este termo no interior da fenomenologia husserliana) da tese copernicana leva Husserl à investigação da Terra em uma outra função transcendental, a saber, sua constituição enquanto solo e fundamento de referência para a experiência do espaço, do movimento e do repouso. Ao lado deste primeiro aspecto ligado ao sentido de natureza, a investigação de A Reversão abarca um outro campo temático, onde o manuscrito toca as fronteiras da filosofia fenomenológica e desafia os limites teóricos estabelecidos pelas interpretações ortodoxas da fenomenologia transcendental: a relação entre Terra, historicidade e intersubjetividade. Assim, a parte final do texto é dedicada à exposição da Terra como elemento da "história originária" que vincula todas histórias relativas da humanidade, a qual se organiza em uma multiplicidade de territórios ou moradas. Nos termos de Merleau-Ponty, a Terra é, sob esta perspectiva, a reserva de onde pode provir toda a vida, todo futuro e toda história.Tradução de Gabriel Lago de Sousa Barroso ** Doutor em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisador associado no Instituto de Filosofia da Universidade de Wuppertal (Alemanha). Pesquisador de pós-doutorado no Arquivo Husserl em Leuven (Bélgica).
Referência(s)