OS ESTEREÓTIPOS SOBRE OS “ÍNDIOS” NO BRASIL OITOCENTISTA (1845-1867): discursos em disputa
2022; UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ; Volume: 19; Issue: 34 Linguagem: Português
10.18817/ot.v19i34.992
ISSN1808-8031
AutoresPHILIPE LUIZ TRINDADE DE AZEVEDO,
Tópico(s)Linguistics and Education Research
ResumoO presente artigo apresenta uma caracterização dos discursos referentes aos índios, em pauta no século XIX. Tais discursos trazem em seu cerne a figura do índio como uma das principais inquietações sobre a constituição da população brasileira. Foram abordadas as falas de alguns proeminentes intelectuais do século XIX, no intuito de situar o leitor em relação aos debates que eram travados durante o momento cronológico de 1845 a 1867, antes da popularização das ideias ligadas ao darwinismo social e à eugenia, na década de 1870. Entre os intelectuais trabalhados, foi abordada a monografia de Carl Philipp von Martius, premiada por definir as bases para a escrita da História do Brasil. Em seguida, o discurso de Francisco Adolfo de Varnhagen, caracterizado por uma crítica ao movimento indianista que tentava eleger o nativo brasileiro como representante da nacionalidade brasileira. Além desses, ainda João Francisco Lisboa, que apresentou um discurso flutuante, que, inicialmente, mostrou-se crítico aos índios, classificando-os como bárbaros e, posteriormente, transmutou-se para uma fala que admitia a ação predatória do colonizador sobre os primeiros habitantes do Brasil. O termo discurso foi aqui empregado considerando que Pierre Bourdieu afirma que a língua não é apenas um sistema de comunicação, mas uma remissão ao estabelecimento de uma ideologia que demarca uma ideia dominante. Existindo assim uma noção de linguagem autorizada que defende a existência daqueles que têm legitimidade para expressar discursos e esses indivíduos são reconhecidos como portadores de uma fala legítima. Os símbolos linguísticos ultrapassam a função de comunicação. O seu uso passa a ser a forma de se estabelecer sistemas simbólicos que preenchem as consciências coletivas[1] e contribuem para o estabelecimento e a reprodução da ordem social. [1] “Consciências coletivas” ou “consciências comuns” é um conceito produzido por Émile Durkheim, e que se refere ao conjunto de sentimentos comuns à maioria dos indivíduos pertencentes a um determinado grupo. A consciência coletiva existe independentemente dos indivíduos e se espalha de maneira difusa, em todas direções possíveis, e não se modifica de geração em geração (DURKHEIM, 1979, p. 40).
Referência(s)