“¡Cállate, mierda !” Somos tres mujeres negras que tomamos la palabra : activismo transnacional en las movilizaciones negras en Bahía
2022; UMR ESPACE et UMR LISST; Volume: 6; Linguagem: Português
10.4000/slaveries.6539
ISSN2540-6647
AutoresMille Caroline Rodrigues Fernandes, Luzi Borges, María Rita Santos,
Tópico(s)Latin American socio-political dynamics
ResumoEste artigo, fruto das reflexões de três pesquisadoras negras, objetiva apresentar como os processos de mobilizações e ativismos da população negra se desenvolveram no Brasil, especificamente em Salvador, capital do Estado da Bahia, a partir do movimento de protesto Black Lives Matter (BLM), o qual nasceu nos Estados Unidos da América, em 2013, e aqueceu com o assassinato de George Floyd. Nossa discussão organiza-se em dois momentos: no primeiro, fazemos uma breve contextualização do Mapa da violência no Brasil/Bahia e das influências transnacionais do #BLM em defesa das vidas negras e a luta contra o racismo antinegro. Para tanto, utilizamos dados quantitativos de pesquisas realizadas pela Central Única das Favelas (CUFA); os Atlas da Violência produzidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP); os Mapas das Violências Homicídios e Juventude no Brasil (2013) e os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Analisamos uma comunidade virtual com 9.914 membros na rede social Facebook da “iniciativa brasileira Vidas Negras Importam” fundada em Salvador-Bahia, em 2015, a partir dos projetos desenvolvidos por Cetilá Itas. No segundo, o ciberativismo foi utilizado como dispositivo metodológico e base de análise, para apresentar a influência das redes e as trocas políticas, midiáticas e científicas entre ativistas negros/negras e simpatizantes como luta e resistência contra a violência racial antes e depois do movimento BLM, destacando o atual momento de enfrentamento à pandemia da Covid-19 e as campanhas do “Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta”. Por fim, consideramos que as mobilizações do BLM não são somente reações ao desconforto e indignação provocados pela mediatização dos casos de violências policiais contra as pessoas negras nos EUA. Estas mobilizações, a partir do ciberativismo serviram, no Estado da Bahia, como um chamado para ação de reivindicações antigas que já ocorriam em todo o mundo. No entanto, viram na #BlackliveMatter, ou como chamamos no Brasil #VidasNegrasImportam, uma ferramenta para pensar o mundo, no qual a população negra seja livre para existir, para viver e exercer o seu direito de ir e vir sem que a cor da sua pele seja alvo do sistema neocolonial que coisifica, apreende, humilha, expulsa e mata a população negra. O BLM também nos possibilitou revisar e refletir sobre a ferida colonial que é o racismo e o sexismo e de como o pensamento moderno guiou/guia todo o discurso científico, econômico, jurídico e político inventando o ser negro para justificar o seu aniquilamento. Importante ressaltar que a necropolítica pode estar inserida não apenas no que diz respeito à execução física de corpos negros/as, todavia no silenciamento, na exclusão, no encarceramento em massa e na violação destes corpos. Assim, compreendemos que as diversas instituições sociais funcionam como “braços” de coerção do estado, principalmente a polícia, que representa o estado armado e em nome de uma suposta segurança e ordem pública desempenha a função de controlar e de eliminar os corpos negros. A nossa cor nos lembra cotidianamente sobre os constantes perigos de morte que corremos e de que estamos por nossa própria conta.
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