Manifestações de rua no Brasil de 2013 a 2015: cultura digital reapropriada
2022; Taylor & Francis; Volume: 47; Issue: 3 Linguagem: Português
10.1080/08263663.2022.2110792
ISSN2333-1461
Autores Tópico(s)Brazilian cultural history and politics
ResumoRESUMONo ano de 2013, o Brasil quase parou com manifestações nas ruas por todo o país. Chamadas por movimentos de juventude, de forma inédita, completamente através das redes sociais, surpreenderam com a força e a estratégia de sua organização. As Jornadas de 2013 tiveram início com o Movimento Passe Livre contra o aumento de vinte centavos na tarifa de ônibus, em São Paulo, e eclodiram em protestos em defesa de direitos humanos e sociais em mais de 500 cidades. Em alguns meses, foram apropriadas por grupos de direita com financiamentos transnacionais. Em pouco mais de ano, os protestos levam ao impeachment de Dilma Rousseff, primeira mulher presidente no país, e à retomada do governo federal pelo mesmo grupo desde a redemocratização. O deslumbramento dos brasileiros para com o uso das mídias sociais e a manipulação na distribuição de conteúdos propiciam o avanço do conservadorismo e a renovação do campo das direitas na política brasileira. Desde uma perspectiva decolonial, através de revisão bibliográfica narrativa, este artigo visa demonstrar como movimentos de direita se apropriaram das estratégias da cultura digital brasileira fomentadas até então pelos governos progressistas. Apresenta ações federais para a formação setorial da cultura digital, os principais agentes das manifestações, suas estratégias e reivindicações, com o objetivo de compreender as consequências políticas dos protestos ocorridos até 2015.ABSTRACTIn 2013, for months Brazil almost stopped due to numerous manifestations across the country. Called by youth movements, unprecedented and fully organized on social networks, they surprised the country with the strength and strategy of organizing the mobilizations. The 2013 Journeys began with the Movimento Passe Livre at the front, against the twenty-cent increase in bus fares in São Paulo, and erupted into protests in defense of human and social rights in more than 500 cities. In a few months, they were appropriated by right-wing groups financed by transnational corporations. In little more than a year, the manifestations lead to the impeachment of Dilma Rousseff, the country's first female president, and the resumption of the federal government by the same group since re-democratization. The fascination of Brazilians with social media and the manipulation in the distribution of content propitiate to the advance of conservatism and the renewal of the field of the right in Brazilian politics. Considering a decolonial perspective, through a narrative bibliographic review, this article aims to demonstrate how right-wing movements appropriated the strategies of Brazilian digital culture promoted until then by progressive governments. It presents federal actions for the sectorial formation of digital culture, the main agents of the manifestations, their strategies and claims, with the aim of understanding the political consequences of the protests that took place until 2015.PALAVRAS CHAVE: democraciamanifestaçõesprotestos de ruamídia independentejuventudescultura digitaldireitos humanosperspectiva decolonialKEYWORDS: Democracymanifestationsstreet protestsindependent mediayouthdigital culturehuman rightsdecolonility AgradecimentosAgradece-se a leitura atenta e contribuição generosa dos avaliadores deste artigo, bem como aos editores desta publicação.Declaração de informaçãoNenhum potencial conflito de interesse foi relato pela autora.Notes1. O Fórum Social Mundial foi uma das ações de formação da Sociedade Civil promovida por agentes sociais com apoio dos governos progressistas, especialmente do PT, em Porto Alegre.2. As polícias no Brasil são quatro: Federal, Militar, Civil e Guarda Municipal. Além das Forças Armadas que atuam em intervenções específicas, como no Rio de Janeiro, em 2014 e 2018.3. Ao sistematizar os princípios do hipertexto, Pierre Lévy considera a teoria das redes, principalmente de acordo com suas características e possibilidades tecnológicas. São eles: heterogeneidade, mobilidade dos centros, metamorfose, multiplicidade, exterioridade e topologia (Lévy Citation1993).4. Ver: https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/CartilhaPNPS1.pdf.5. O Participa.BR foi uma plataforma digital criada com o propósito de promover e qualificar o processo de participação social, a partir da disponibilização de módulos para divulgação de consultas e audiências públicas, pesquisas e na promoção de boas práticas. Em 2013, ainda em fase de teste, foi aberto ao público para submeter a minuta da PNPS à consulta pública virtual.6. O Participatório – Observatório Participativo da Juventude foi criado em 2013 pela Secretaria Nacional de Juventude para funcionar como um ambiente virtual de interação entre jovens, redes, grupos, movimento sociais, gerentes, pesquisadores e parlamentares relacionados a questões da juventude na produção do conhecimento, proposição de políticas públicas e mobilização social. Ver: https://latinno.net/pt/case/3226.7. Nos anos 2000, os desenvolvedores brasileiros eram presença marcante nos fóruns internacionais de programadores da comunidade internacional. Software Livre, hackers, desenvolvedores Debian, Cultura Livre, creative commons eram associados ao país (Schwingel Citation2002).8. O Programa foi elaborado em 2002 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, porém voltado para pontos de acesso em centros comerciais urbanos. A proposta de então era levar os serviços de Governo para o cidadão nas grandes cidades.9. No Brasil, "eixo" corresponde a Rio e São Paulo.10. Rodrigo Savazzoni, coordenador do Fórum em SP, havia conhecido o espaço Cubo em Cuiabá, pesquisou e publicou livro sobre o coletivo. Cláudio Prado, consultor da Casa da Cultura Digital, cluster que agregou organizações e pessoas que realizaram o Fórum, passou a atuar com o coletivo.11. Ver: http://softwarelivre.org.12. Ver: Século XXI: Barbárie ou Solidariedade? Alternativas ao Neoliberalismo. Paulo Fagundes Vizentini e Raul Carrion (orgs.). Porto Alegre: Ed. Da Universidade, 1998.13. Ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rum_Social_Mundial.14. Uma cronologia completa pode ser vista em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_das_Jornadas_de_Junho. Para os protestos em São Paulo: http://g1.globo.com/sao-paulo/protestos-2013/infografico/platb/2013/06.15. Houve grande controvérsia sobre este número. A Folha de São Paulo analisou uma foto aérea para definir o número de participantes e descreveu sua metodologia de análise, contestada por ativistas.16. Ver: https://www.mpl.org.br.17. Compreende-se como o ativismo social e político realizado através das mídias e tecnologias de comunicação.18. Compreende-se como a ação de mídias livres ou a liberdade da mídia ao não sofrer constrangimentos, como os da teoria organizacional jornalística.19. Ativistas que usam a arte como principal forma de expressão.20. Compreende-se como o ativismo estrito no ciberespaço, ações e tecnologias digitais em rede que facilitarão processos, relacionado à cultura maker na internet.21. Ver: https://www.facebook.com/MidiaNINJA.22. Ver: https://twitter.com/MidiaNINJA.23. Ver: https://www.flickr.com/photos/midianinja.24. Ver: https://www.tumblr.com/blog/view/midianinja.25. Ver: https://www.instagram.com/midianinja.26. Ver: https://medium.com/@MidiaNINJA.27. Ver: https://midianinja.org. O site elaborado pela Oximity foi lançado em 2014, na época da Copa do Mundo no Brasil. A empresa alemã foi vendida três anos depois e o Fora do Eixo migrou o site para a plataforma livre Wordpress.28. Ver: http://g1.globo.com/brasil/linha-tempo-manifestacoes-2013/platb.29. A Lava Jato é um conjunto de investigações para apurar esquema de lavagem de dinheiro envolvendo políticos e empresários, com pagamento de propina. Em 2014, com situação econômica desfavorável, o Supremo Tribunal Federal solicita a investigação de cerca de 50 políticos supostamente envolvidos no esquema de corrupção, a maioria pertencente a partidos aliados do governo. Ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Lava_Jato.30. A crise econômica a partir de 2013 foi importante aspecto utilizado por opositores e críticos da gestão federal petista. Desde a perspectiva do uso da cultura digital para a organização das manifestações, não a consideramos fator decisório. Para saber mais, consultar: Marco Aurélio Nogueira (As ruas e a democracia) e Bruno Cava (A multidão foi ao deserto).31. O sistema eleitoral brasileiro é composto de primeiro e segundo turno nas eleições majoritárias para presidente, governadores e prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores.32. A explosão do Airbus da TAM, em 17 de julho de 2007 deixou 199 mortos.33. Ver: https://www.forumdaliberdade.com.br.34. O que tempo e investigações demonstraram não proceder.35. Diretas Já foi grande movimento popular pela redemocratização do país, de 1983 a 1984. Ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Diretas_Já.36. A diferença dos números entre o Instituto de Pesquisa e a Polícia Militar deve-se à metodologia utilizada, segundo eles.37. Iniciadas no evento de abertura da Copa do Mundo, os xingamentos sexistas viraram posicionamento político na Campanha Pró-impeachment. Ver: https://blogdotarso.com/2014/06/12/vaias-e-xingamentos-contra-dilma-vieram-da-area-vip-com-ingressos-a-r-990-e-cortesias-para-artistas-globais.38. Ricardo Salles foi ministro de Meio ambiente de Jair Bolsonaro. É um dos principais responsáveis pelo desmonte da política ambiental brasileira.39. Apesar do WhatsApp não ser uma mídia social, a imprensa brasileira assim o relaciona.40. Previamente indicando o que viria em termos estratégicos eleitorais, em 2018.41. O MDB é um partido histórico que assumiu a Presidência por votação indireta na redemocratização, Tancredo Neves é eleito, falece antes de assumir, o vice assume. E o PMDB não sai mais do poder federal até então.Additional informationNotes on contributorsCaru SchwingelCaru Schwingel Jornalista (FABICO/UFRGS), Mestre em Cibercultura (Centro Internacional de Estudos e Pesquisa em Cibercultura – Ciberpesquisa) e Doutora em Ciberperiodismo (Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online - GJOL) no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/UFBA). Realizou pós-doutorado em Fotônica e Novas Mídias, na Universidade Mackenzie (SP). Pesquisadora, professora, emprendedora, consultora (Pnud/ONU), ativista digital e política. Co-fundadora da Casa da Cultura Digital-SP e do coletivo Jornalistas Livres. Autora dos livros "Ciberjornalismo" e "Mídias Digitais – produção de conteúdos para a web".
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